segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Engrenagens Loucas de um Mundo Insano

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By bmozz at 2011-01-24


Blake acordou com uma ressaca dos infernos e com gosto de vinho barato na boca, olhou pro lado e a viu ali deitada. Já não era mais a mesma coisa de alguns anos atrás, mas ainda tinha uma boa porção de rabo. Ele cutucou-a com o dedão da mão direita, depois, foi chegando a calcinha pro lado. Encostou a cabeça do pau na entrada e ela se mexeu pro lado. O pau ralou no fino tecido. Ele se virou, levantou e foi escovar os dentes...
Betty estava deitada e ouvia ele roncando a noite. Meu deus!!! Como poderia ela estar junto dele há tanto tempo? Já não era mais suportável o seu ronco que mais lembrava o motor de um velho dodge engasgando gasolina. Não suportava mais seus olhos, sua fala sempre rude, o barulho maldito das teclas do computador enquanto ele digitava seus textos.A idéia das cerdas da escova em seus dentes era algo que lhe causava náuseas.
Sentiu quando ele chegou sua calcinha pro lado.Tempos atrás aquilo seria uma coisa gostosa, mas hoje...Era simplesmente insuportável a idéia de uma foda.
Blake foi à janela e fitou o Sol. Depois voltou pro quarto, viu os guris deitados dormindo. Sorriu. Vê-los era com ver cavalos selvagens cavalgando em campos cobertos de neve. Uma sensação incrivelmente boa.
Depois entrou no quarto. Olhou-a deitada...Como as coisas ficaram assim? Diabos! Sabe lá Deus como? Simplesmente ficaram...Ele balançou os trocados no bolso, as chaves e se mandou pro emprego. Um emprego brutal e escroto com um salário ainda mais fodido, mas era necessário. A que as pessoas se submetem quando PRECISAM derruba todas as normas de etiqueta existentes.
Era um perdedor nato, como muitos por ai e sabia disso, mas Ela sempre estava lá pra lembrá-lo. Sentiu sua alma embriagada de vinho mais triste que todas as árvores de natal cortadas na terra. Ele era só uma engrenagem velha e fodida numa maquina de mundo louco.
Betty continuou deitada e ouviu quando os trocados chacoalharam em seu bolso. Sentiu a cama dobrar-se e ceder ante seu peso paquidérmico.Manteve-se de olhos fechados rezando pra que ele fosse embora e simplesmente NUNCA mais voltasse.
Ele queria apenas fugir.
Ela ouviu a porta se abrir, o pigarrear grotesco e gutural, o som das chaves e a porta se fechando.
Depois foi o quarto escuro e o silêncio.



quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Parabéns pra você




Saltei do ônibus, cruzei a avenida e já estava suando quando adentrei a loja de departamentos. O lugar como em todos os sábados do ano estava LOTADO.
Detesto aglomerações de pessoas. Consumidores são ainda piores. É claro que ali no meio havia muitos rabos proveitosos, mas mesmo assim não era possível ficar teso ao olhar. A corrida desenfreada em busca de objetos, desejos e presentes deixava a massa humana ainda mais cega que de costume. Elas só se atropelavam e acotovelavam-se intensamente.
Consegui chegar às escadas rolantes e subi. O segundo andar era um pouco mais calmo. O setor de brinquedos era o lugar onde as crianças tinham alguma CHANCE. Por mais que digamos que as crianças sejam a pureza isso é mentira. Elas são a forma mais carente de vida que existe porém, são felizes por não saberem disso. Medem menos de um metro e meio, sem passaporte, sem rg, obrigadas a se vestirem, agirem e pensarem como nós adultos que já estamos com as almas mordidas e rasgadas.
Olhei o vendedor. Parecia ser um cara bacana.Resignado pelo maldito emprego que ele era obrigado a manter para sustentar a familia. Ele me indicou um troço bem bacana. Era bem melhor que eu imaginava e realmente muitos mangos mais barato.
Desci as escadas e me embrenhei junto à massa humana novamente.Filas e mais filas, longas como centopéias egípcias, rolando lentamente como alfaces sobre uma folha de alface. Me ajeitei atrás de uma morena rabuda e fiquei aguardando olhando pro rabo dela ree pras coxas revestidas de nylon fino. Cheguei finalmente ao caixa. Era uma baixinha burra com a face brutalizada por novelas, reality shows e sonhos vendidos por emissoras de tv.
Depois de quase 10 minutos ela conseguiu passar meu cartão e efetivar minha compra.
Sai pra avenida, pulei dentro do ônibus e fui pro trabalho. Mais doze horas de inferno.
O domingo chegou e enfim, o esforço de quebrar pedras finalmente se vê compensado em estrada.
O embrulho se rasga freneticamente e ele sorri o mais puro dos sorrisos. Uma verdade única expressada nos olhos e nos gestos.
A vela se acende, as palmas claptam pelo ar e ele assopra...
Parabéns pra você e aproveite a vida enquanto ela ainda não te consome.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

One More Round



O ano ainda cheirava a carro novo e eu já esfolava meu rabo trabalhando feito a porcaria de um camelo no Saara logo na primeira semana de janeiro. Mas até que não era tão ruim, pois alem da boa recompensa em grana pra quitar as dividas do natal, que não reclamo, afinal era muito bacana ver a cara dos guris, acabei dando sorte de ter caído num trampo com um cara legal.
O nome dele era Sal e era o tipo garotão-bacana-de-praia-bom-moço. Óculos redondos e cara de quem estuda alemão na porra de algum colégio na região de perdizes, mas na real não era nada disso. O cara era um lutador de jiu e poderia arrancar teu braço com um desses golpes malucos ou, fraturar teu crânio com um pontapé, embora eu achasse que isso não seria tão fácil de acontecer, pois ele era mesmo um cara bacana.
-você ta ligado né cliff que tem uma porrada de gente que não me curte aqui no trampo.
-Olha Sal, eu to ligado é que tem uma cambada de filhos das putas nesse trampo...Eu acho muito normal os caras não curtirem você e ficarem falando merda...Você é um cara comum, tem a mente livre, então pra eles é uma ameaça. Também tem uma pancada de gente lá que não vai com a minha cara, mas pra mim é até melhor assim.São poucos os que não servem apenas pra ser trancados num octógono e serem cobertos de pancada.
-Tem cara ali, que é metido a esperto e marrento, mas não sabe de nada. Tomam chapéu de bola parada e acham que tão na vantagem.Me vêem e acham que sou um boyzinho pelo meu estilo.
-Pra esses caras você tem que estar sempre de camisa de botão, ouvindo umas musicas cafonas e batendo aqueles papos-furados e sem sentido. Na maioria é gente muito vazia e é raro encontrar gente com algo de bom. Mas temos que conviver com eles é como o titulo que eu tenho pro livro que um dia hei de lançar.
-Livro?
-É. Tenho um blog e quero fazer um lance de livro um dia.
-E Qual é o nome?
-O diário de um homem insano o suficiente pra conviver com bestas.
-Heheh. Comédia! Passa-me o endereço depois pra eu dar uma olhada.
-Pode deixar. Mas fica frio que você não é uma das bestas. Antes de te conhecer já sabia que você era um cara bacana.
-Por que?
-O Six-Side-Head já tinha trampado contigo e me falou bem ao seu respeito.
-Aquele cara é uma figura! Gente boa mesmo.
-É sim.
-Bom, vamo que vamo que tem mais um round dessa batalha.
-One more round! Essa frase é clássica do Balboa.
-Só!
E assim, assistindo a lutas, bons filmes e bate-papos legais, eu começava mais um round no ringue da sobrevivência.