sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Num janeiro distante.



Eu era novato no trabalho de modo que não entendia bem como aquela porra funcionava quando ela passou por mim.
Olhos coloridos, cabelos crespos e uma baita de uma bunda grande e sacolejante dentro do uniforme.
Se tinha uma coisa legal seria dar umas boas lambadas naquele traseiro, mas logo percebi que não era pro meu bico então, fiquei na minha esperando uma chance de fugir.
Veio o almoço e me mandei prum bar lá perto.
Sentei no fundo, pedi uma vodca com limão e uma cerveja enquanto aguardava o almoço chegar.
De repente ela entrou.Revelava aquilo tudo e não fazia questão de esconder.
Na sequência entrou outra, pareciam amigas, essa outra com uma lomba ainda maior.Diabo, Sol, cerveja e aquilo, era um panorama agradável das coisas.
Daí ferrou tudo.
Entraram dois caras velhos e carrancudos,um com uma panca de Durão, lábios cerrados branco e calvo.O outro era preto aparentava certa calma e cinismo no olhar.
Sentaram-se na mesma mesa que as duas garotas.
Sentia algo no ar, pernas por baixo da mesa, sorrisos grandes e festivos.
Os dois coroas estavam com uma cara boa.
Também porra? QUEM DIABOS NO MUNDO NÃO ESTARIA?
As duas se levantaram para ir ao banheiro.
Mulheres sempre vão ao banheiro juntas sei lá por quê.
Parecia que todos no bar as conheciam.
-Oi Kim.
-Oi Jean.
E assim seguiam as coisas.
Olhei pros coroas.Eram os bambas da parada.Considerei aquilo uma troca justa.
Experiência e consideração tendo em resposta jovialidade e beleza.
Comi meu prato, bebi minha cerveja e fui pra rua.
Acendi um cigarro e a de bunda enorme saiu.
-Hei! Novato! Tem isqueiro?
Estendi o isqueiro até ela.
Kim, uma pessoa popular.
Na sequência Jean saiu junto aos coroas.
Entraram os 4 num grande carro cinza, um esportivo bacana.
Fui até o emprego, estava atrasado.
Um cara grande com um bigode escova deu um grito, um moleque magrelo passou correndo.
Fui ao banheiro e olhei minha cara no espelho.
Era algo pavoroso, entre um pano de prato sujo e um tênis desamarrado, mas diabos, o que se poderia fazer né?.
Sai, o cara de bigode gritou é me mandaram subir e passar uma tarde infernal.
Kim, Jean e os coroas chegaram.
Tinham uma cara feliz.
Não sei dizer se fizeram naquela tarde, mas ao olhar aquele cara de bigode vindo em minha direção percebi que ao menos eu havia me fodido.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Taças Quebradas Não Guardam Vinho



 Tirei as botas, toquei os pés no chão e quase agradeci a Deus, se eu tivesse um, por esse pequeno momento de alívio.
 A recessão pós combate estava nos matando e, nessas alturas do campeonato, eu já me perguntava se realmente havia valido a pena ter lutado naquela porra.
 Lou Mcknee trabalhava comigo nesse tempo.
Gostava de Lou, ele tinha um carro movido à gás que nunca pegava nos dias de frio e estava sempre bolando uma forma de se alavancar na vida, não estava funcionando, mas ele não se abalava, não fumava, não bebia, o que eu considerava uma temeridade.Pra mim era impossível encarar o mundo 24hs por dia sóbrio.Tinha um hobbye que eu não curtia mas não condenava,cada um na sua.
 Lou sentou numa cadeira, abriu um envelope e vi sua cabeça desabar.
BANG!!
 Tipo um tiro de espingarda de dois canos, daí então levantou e vi seus olhos no escuro.
 - Cliff?
 - Fala cara.
 - Você tem como me arrumar um trago?
 - O QUÊ??!!
 - Um trago cara, realmente preciso disso agora.
 - Tudo bem.
 Abri minha bolsa e tirei dela um meio litro de Jack que sempre tinha comigo.
 Encontrei dois copos, servi e sentamo-nos frente à frente.
- Sabe Cliff...Porra...Cara...Eu nunca imaginei que fosse me pegar assim...Deus, meu Deus! É difícil cara...É difícil.
Estendeu a mão e me entregou o envelope.
Um convite de casamento.
Conhecia a garota de vista.
Era Katie Willians.
Acho que tinha falado com ela uma ou duas vezes na vida.Era pequena e bonita, um belo par de seios.
 - Você diz que calendário é besteira né Cliff?
- Sim. As vezes vivemos uma vida em um minuto, a intensidade dos atos é o que conta.
- Te entendo...Sabe cara...Te acho meio bêbado e maluco, mas nesse momento,você é a melhor companhia do mundo.
 - Aposto que sim.
 Olhei a foto de novo.Bem, não sabia que porra era aquela daquele tipo de sentimento.
As mulheres tinham passado por minha vida arrancando pedaços mas nada letal.
Pra ele havia sido.
Fui até a rua, entrei no bar.Peguei mais meio litro e voltei.
 Bebi com Lou até o Nascer do Sol.
Ele sentiu a garganta queimar, não pela bebida, mas pelo desfecho da história na qual ele não seria protagonista.
Katie, belos seios, não caberiam mais em suas mãos.
 Eu segui bebendo por que foi a única coisa que aprendi direito na vida.
O dia nasceu, empurrei seu carro e ele se foi.
Se não conformado, ao menos com um alívio.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

GHOST RIDER IN THE SKY

Sentou-se à mesa e de um só gole entornou toda a bebida que desceu-lhe pela garganta como fogo liquido. Daí então, teve paz para pedir uma cerveja e saboreá-la com certo prazer.
Era uma madrugada escaldante de um interminável janeiro.
Olhou a tela da tv e ali via-se a equipe do Phoenix Suns de 92.
Acendeu um cigarro, respirou a ar quente da noite. A lua seguia alta no céu cercada por parcas nuvens alaranjadas e infernais, VERDADEIRAMENTE INFERNAIS.
Chacoalhou os bolsos e viu algumas moedas.
Pagaria o bar por hoje, o amanhã sempre uma incógnita, sempre uma luta tremenda, sempre uma dureza, sempre quebrando pedras com as mãos.
Os olhos borrados e a face cansada fitavam a tv, as cadeiras empoeiradas e as moscas que voavam pelo escuro salão.
Ele já não era metade do que fora um dia.
A música tocava num looping infinito, um eterno “repeat” que só servia pra lhe ferir ainda mais e, não duvide que não fosse possível ocorrer.
Em outro lado, numa cidade vizinha ela entrou no quarto penteou os cabelos em frente ao espelho, colocou um leve vestido vermelho e depois foi à cozinha.
Não, não havia lembrança alguma em seus olhos.
Nem em suas mãos, ou pele.
Um programa mostrava lances de esporte que ela não conhecia bem, mas versava sobre um jogador, intenso e rude, bom, porém sempre derrotado em suas disputas.
Sem interesse, mudou o canal e foi à janela tentar respirar um pouco de ar fresco, o que era impossivel sob aquele escaldante calor.
Ligou o rádio e pôs-se a dançar timidamente em seu quarto.
Seus pés quicavam o soalho com se fosse feito de aço.
Não se achava boa nisso, mas naquele momento, estava feliz sem motivo e gostava daquela música.
De um modo ou de outro a fazia feliz.
Ele seguiu bebendo e o Phoenix perdendo e a música tocando.
Sentiu vontade de largar tudo. De largar o jogo, de mandar o mundo à merda e caminhar, mas sabia estar preso àquela realidade insana e confusa que fora toda a sua existência.
Foi ao  banheiro, lavou o rosto, mas mesmo a água lhe parecia quente demais, sua camisa suada e sua expressão cadavérica em nada lhe ajudavam, não mesmo.
Sabia que o dia nasceria e ele ainda estaria ali, e em outras ocasiões também estivera assim e estaria ainda mais vezes.
Ela enfim deitou-se e dormiu um pouco.
Era confortável o toque dos lençóis naquela madrugada.
Acordou pontual, banhou-se e desceu as escadas.
Andava leve como uma pluma, flutuava em pequenas bolhas de ar.
O sol despertara mais cedo que de costume.
Ele Levantou-se.Não estava bêbado com gostaria.
Entorpecido ele tinha um chance de esquecer um  pouco.
Pagou a conta e, entrou no carro e seguiu pela estrada.
À frente o Sol o cegava mas ele seguia.
Sabia que seria assim pra sempre e já não mais era capaz de lamentar o fato.
Pelo retrovisor ela viu o semblante de um homem alguns carros atrás.
Uma imagem desesperadora e horrível pra se ver num começo de domingo.
Algo morto habitava em seus olhos cinzentos e no rosto borrado.
Sinalizou, dobrou à direta e seguiu seu dia.
Ele seguiu em frente.
Seus olhos cinzentos e sua face alquebrada contra o Sol.
Perseguindo o que nunca alcançaria.
Seu cigarro, sua bebida e sua loucura por companhia.
O rebanho estaria sempre a sua frente, sempre e ele NUNCA  seria capaz de laçar nenhuma das cabeças.
Parou num auto posto e serviu-se de mais uma cerveja.
Não era cura, mas aliviava.
Viu um garoto entrando.
Olhou-o nos olhos e soube tudo em um só instante.
Era como ele fora e dificilmente não estaria junto dele num futuro próximo perseguindo seu rebanho.
Entrou no carro e seguiu rumo ao Sol.


sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Uma canção para Don

Donald Hester estava em caco quando pegou o telefone e ligou pra Blake numa manhã de sábado quente como o inferno.
 -Blake?
 -Fala cara. Como está?
 -Não tão bem quanto deveria, mas foda-se...Têm um tempo?
 -Tenho cara.
 -Ótimo, no Mud’s.
 -No Mud´s.
 Blake era um cara velho e confuso, meio lunático e biruta, mas tinha um coração grande.
 Um perdedor nato que continuava no jogo simplesmente por falta de opção.
 Blake entrou no carro e dirigiu até o Mud´s.estacionou do jeito que ele conseguiu e entrou.
 -Blake! tava sumido meu velho, como vai?
 -Indo Janine, tava mesmo, muita correria, ando cansado à beça.
 -Nem fala, eu tô detonada.
 Don entrou, bateu os sapatos e sorriu pra Janine.
 -Oi querida! manda um duplo pra mim e um com água pro Velho aqui.
 -Meio-a-meio Blake?
 -Meio-a-meio Jan.
 -E ai vida mansa? O que manda?
 -Cara, to numa tremenda fria.
 -E quem não está mano? Acho que desde que chegamos no mundo a gente tá numa fria.
 -Mas essa é pra valer.
 Janine trouxe os copos.Beberam, brindaram e seguiram o papo.
 A manhã seguia quente, os carros passavam como peixes num oceano e ali, dentro do bar,a vida era como um aquário, por um momento parecia seguro.
 -E é isso.
 -Cara, que bad Don...olha, eu nem sei por onde começar...Eu queria ter um problema desses, seria bom, bom mesmo, mas nessa altura do jogo eu nem sonho mais com uma coisa dessas. Só sei que é uma chance em um milhão, mas é um risco desgraçado...Muita merda pode voar e merda voando é um inferno daqueles e na nossa idade e estado acho que a gente não aguenta mais. De uma forma ou de outra, você consegue resolver esse galho, tem um monte de coisa ao teu favor na parada e por incrível que possa parecer, você tá num momento confortável.
 -Olha Blake...eu realmente to rezando pra isso cara...E é bom falar contigo.
 -Valeu Don. Agradeço o apreço. e como dizem, amar é tudo aquilo que dissemos que não seria. 
Blake foi até a Jukebox e colocou uma ficha.
 A música começou a tocar suave e limpa.
 Janine trouxe mais dois copos, acendeu um cigarro e ficou ouvindo a música junto.
 Paz, sabedoria, vitória e sucesso nem sempre se alcança, mas um bom momento num bar pode te dar um folego extra pra seguir na luta. 

Mesmo sabendo que você será derrotado por pontos no final.

 Mesmo sabendo que o fim da linha é num abismo escuro e frio.

 Mesmo sabendo que o Sol nasceu pra todos mas se escondeu de você.

 Ainda da pra sorrir um pouco e respirar.