Chuck Ladner era um cara bacana. A maioria das pessoas que afundavam na merda junto conosco o achavam esnobe e meio lelé da cuca mas eu bem sabia que não era nada disso.
Chuck lecionava literatura brasileira num colégio bacana e escrevia contos realmente muito bons.
Se interessava por um monte coisas malucas como xamanismo e religiões afro e quando escrevia, falava de uma maneira fácil e bucólica, conseguindo te transportar pra uma casa de campo em palavras.
Conheci Chuck uns 12 anos atrás quando ele fazia umas paradas de circo e outras coisas assim.Nosso gosto musical parecido nos aproximou e também a nossa total falta de aptidão junto à massa humana que convivíamos à época.
Estava sentado no canto da sala cozinhando meu rabo sob um Calor dos infernos quando Chuck chegou.
-E ai Cliff.
-Como esta Chuck? Fiquei feliz em saber que você tava nessa parada.
-Por que?
-Da pra gente bater um papo. Sabe como é, não me dou muito bem com a maioria.
-Mas eu vejo as pessoas falando contigo.
-Eu enceno quase tão bem quanto o Jake.
-Ninguém ganha dele.
-Nem mesmo o De Niro.
-Li seus contos...Brutos.
-É...Eu não consigo ser agradável...Escrevo em pé, como se estivesse operando uma metralhadora. De certa forma estou sempre querendo destruir alguma coisa. Talvez eu mesmo.
-É só seu jeito.
-Eu sei e gosto dele. Sou menos delicado que um cruzado.
-Suas piadas são duras.
-A vida me forjou assim. Sou um boxer em atos e escritas.Você sabe flutuar em nuvens de algodão doce.
-Gostei disso.Vou encarar como um elogio.
O resto do dia se arrastou feito bosta na ladeira.
Antigamente ficaria ainda mais irritado com tudo isso, mas a idade te traz certos luxos, como o poder de ver estes tons cinzas apenas em nuances.
Até que me pareceu delicado.
Fui pra casa e li uma estória bacana de Chuck depois sentei à maquina e escrevi mais um pouco sobre mim mesmo.
Esquivando das durezas do dia e jabeando minhas idéias confusas.
Em pé, fumando e irritado.
Mas disso quem não sabe?