segunda-feira, 27 de junho de 2011

A fofoca escarlate





( Uma história perdida no tempo)

Blake entrou pela porta grande de vidro, dirigiu-se à mesinha de lado, pegou um copo e serviu-se de café. Era uma noite besta e sem lua, como muitas que já vivera em sua vida.

Amelle sentou-se ao seu lado e começou a falar. Amelle sempre falava, falava, falava...Falava pra caralho, fofocava como do demônio num programa de tv.

-Hey Blake! Soube da Becky?

-Não.

-Ela esta grávida.

-Não tenho nada a ver com isso.

-Claro que não! Agora ela esta casada com um musico!

-Que bom pra ela.

-Achei que você gostaria de saber.

-Diabos mulher, eu não tenho nada com isso.

-Mas vocês passaram tanto tempo juntos...

-Passado. Eu era outra pessoa, ela também.

-Ta bom! Não precisa se irritar.

-Não estou irritado. Só não tenho nada com isso.

-Achei que vocês ficariam juntos.

-Mas não ficamos.

-Por que?

-Diabos! Sabe-se lá Deus o porquê.

-Vocês formavam um casal estranho.

-Eu sou estranho.

-Ela esta casada com um musico.

-Que bom! Tomara que ele toque canções de ninar pro bebê.

-Achei que vocês ficariam juntos.

-Mas não ficamos.

-É.

-É...Adeus Amelle.

-Adeus. Não fique irritado.

-Já disse. Não to irritado. Fico feliz por ela, espero que ele seja um cara legal.

-Espero que ele não seja um beberrão como você.

-Eu também.

Blake não estava irritado e isso era verdade, mas as pessoas sempre falam de mais sobre assuntos que não tem nada a ver e isso era realmente irritante.

Blake levantou, depôs o copo de café na pia, lavou-o e depois foi pra rua.

Entrou no carro e por mias que não fizesse o menor sentido começou a pensar no assunto.

Becky e Blake viveram uns tempos juntos. Entre idas e vindas foram uns bons anos. Becky era uma ótima foda e ainda mais um bom papo. Tinha um bom gosto musical e lia Asimov. Mas, de uma foram ou de outra entre essas idas e vindas Blake sempre acabava se machucando.

Conheceram-se de uma forma estranha e sem nexo, como todas as passagens dele.

Ela era uma sonhadora, o mundo parecia ser mesmo um lugar fantástico enquanto Blake...Bem, Blake era uma pedra bruta e opaca.Um sujeito realista demais pro fantasioso mundo de Becky.

Becky agora seria mãe e Blake não era o pai e vinham contar isso pra ele.

O pai era um musico como disseram e Blake ainda escrevia seus contos

Talvez, alguns imaginassem que os dois ficariam juntos, mas Becky havia chutado o rabo bêbado de Blake no momento mais cruel de sua vida e mais que os bons momentos Blake se lembraria disso pra sempre.

Por fim, numa briga besta qualquer, onde Blake poderia ter baixado a guarda ou ela baixado a dela as coisas se acalmariam, mas não foi assim e o tempo passou.

Blake sempre fez as coisas do seu jeito e nunca se arrependeu disso e assim essa história se perdeu no tempo.

Nos primórdios, Blake escrevera muitos textos pra ela. Alguns de amor e outros de ódio. Agora era esse.

Desejando uma boa sorte em seu caminho e um fraterno Adeus.

O carro saiu tranqüilo pela rua e Blake bebeu.

Não por tristeza, ou felicidade, ou nostalgia.

Bebeu por ser o velho bebum que sempre fora.

Mas que sempre fizera tudo do seu jeito.



sexta-feira, 17 de junho de 2011

Uma Breve Temporada No Chalé Da Alta Classe




De todas as coisas sem sentido que já aconteceram na minha vida essa foi uma que mereceu atenção especial e uma menção honrosa.

Não sei como e, por favor, não me pergunte por que me colocaram junto daquele pessoal.

De início, É CLARO que fiquei temeroso.Eu só havia visto isso funcionar nos seriados da tv e no cinema, mas aqui era REAL.

Fui colocado pra passar alguns dias junto de Cindy St Tropes, Scott Bunkertoon e Molly Walsh enfim, toda a alta classe daquele local.

Eu conhecia Scott vagamente e sabia que ele era uma fraude. Ele morava próximo a mim e era um fodido em regra, porém Scott tinha um bom sobrenome e tinha certa classe embora, eu sabia BEM que porra ele era.Um tarado completo e, mesmo que não conseguisse nada, era sempre bom trabalhar com uma mulher como Cindy ao lado.

Cindy era o que podemos chamar de um carnão. Alta, magra, esguia feito cobra, um shape 6’11 Town & Country. Scott lançava as tentativas mais fajutas desde a reeleição de Bush filho, tentando saborear aquela fineza.

Eu estava sentado no banco de trás e via os longos cabelos de Cindy presos em rabo de cavalo, suas ancas firmes e, ficava de pau duro como qualquer imbecil.

-Soube que você escreve Cliff.

-É...Eu rabisco algumas coisas.

-Disseram que você fala muito sobre mulheres.

-Sim. Não da pra escrever sobre hidrantes ou tinteiros vazios.

-Heheeh, vou dar uma olhada. Se eu gostar vou querer uma história minha.

-Tudo bem, mas não me culpe pelo resultado. Talvez eu escreva “The ballad of Scott & Cindy” como uma versão da musica dos Beatles.

-Eu fui ao Cavern Club quando estive pela Europa.

-Aposto que sim.

Paramos pra comer num bom lugar. Olhei pros lados e vi as pessoas. Eu era um peixe fora d’agua. Mal sabia segurar um talher. De repente um outro carro para e vejo Molly Walsh saltar sorrindo e ao lado estava Sam.

-Ola Cliff.

-Ola Molly.

-Cliff! Seu negro safado.

-Sam! É por isso que você sumiu! Ta andando na alta agora.

-Não tem nada a ver, só acabou acontecendo de vir parar aqui.

-Olha cara, isso é bacana e tudo, mas não é a nossa. Isso é a hype e agente não passa de um bando de pinguços falidos.

-Nós temos ALMA Cliff.

De repente achei que Will Smith iria entrar pela porta ao lado do primo Carlton. Deu a louca em Bel Air e os vagabundos chegavam até ali, trazendo suas gingas e suas histórias malucas de bebedeira e glória.

Scott pintou com um sorriso depravado e maluco.

-Cara, a Cindy é mesmo muito gostosa.

-E Disso quem não sabe porra!! Mas não é pra gente. É claro que todo vagabundo pé quebrado que nem a gente sonha com isso, mas ela é uma garota tipo comercial de cigarro carlton, com uma praia e uma xícara de chá. Com essa tua cara de tarado delinqüente juvenil as coisas ficam difíceis.

-E você tem uma puta cara de bebum, mas conta boas histórias.

-Mas nem sonho, fico na minha de pau duro na mão.

-Essa merda dessa trolha de meio metro.

-Meio metro, mas não paga restaurante nem corrida de táxi.

-Eu tou dando duro nisso, acho que tenho uma chance.

-Olha Scott, você é um cara bacana e tal, mas não é um Gentleman.

-Que nada.

E assim, seguiram-se os dias, e pra falar a verdade eram pessoas legais e espirituosas.

Quando o inverno chegou, eles se mandaram pra Malibu e Sam, perdeu seu lugar ao Sol junto ao mundo hype.

Voltamos pro nosso canto fodido e bêbado pelas ruas noturnas do centro.

Scott continuou ali, mas acho que ainda esta tentando alguma coisa sem sucesso.




quinta-feira, 16 de junho de 2011

Um lugar pra se estar.




Dei uma longa e demorada cagada, depois sai e olhei pro pátio. Devia haver umas 50 pessoas lá e eu não me dava bem com nenhuma delas e a GRANDE maioria delas simplesmente me detestava, porém eu precisava matar duas horas e meia e era de manhã e era difícil matar as horas enquanto os bares não estão abertos.

Atravessei a rua, subi a alameda e cruzei a mureta baixa, e bati na porta.

Era um escritório pequeno e aconchegante e lá trabalhavam duas pessoas realmente bacanas.

Jerome era um negro velho, mas que aparentava muito mais jovialidade que a maioria dos garotos por ai. Sempre sabia das coisas, sempre tinha uma opinião pra dar a respeito de qualquer assunto. Chamava a todos de “Young man” e tinha um ar austero e puro.

Sua companheira de trabalho era Tina.

Tina era uma menina com cara de maluca e um papo agradável e meio avoado. Tinha um zilhão de idéias na cabeça ao mesmo tempo e fumava como uma chaminé.

Tina era casada com Boris.Boris era um velho texano de pele vermelha. Boris era um cara sortudo. Tina era bonita e tinha um corpaço.

-Cliff my Young man! Como vai?

-Levando Jerome. Precisava matar umas duas horas e vim ver se dava pra ficar aqui.

Tina estava arrumando os cabelos no espelho e se virou mostrando que a forma ainda era das melhores.

-Cliff! Que bom te ver. Você andava sumido.

-É gatinha...Uma correria dos infernos. Tenho trabalhado feito um camelo. E o Boris como está?

-Velho e ranzinza como sempre.

-O Boris é um mesmo um velho pimentão sortudo. Você esta ótima Tina.

-Obrigado Cliff! Vou fazer um café.

Tina foi fazer um café enquanto eu descalçava as botas e me recostava no sofá.

Jerome folheava o jornal e a manhã seguia fria.

--Então Cliff. Fiquei sabendo do lance do concurso.

-É meu velho. Arrebentaram-me na nota da redação. Nunca fui bem quisto, mas não me sabia assim tão odiado.

-Acho que você, bem te vêem como um perigo.

-Sei lá meu caro, só sei que me arrebentaram no meio, assim, sem massagem...Mas pra merda tudo isso. Dei graças a Deus por vocês estarem aqui hoje.

-Por que?

-preciso esperar um tempo e simplesmente não conseguiria ficar por duas horas naquele lugar. Geralmente mato o tempo bebendo feito um gambá, mas ta cedo demais pra isso então, se não fossem vocês eu estaria andando pela rua feito o “kung-Fu”.

-Ou feito o Hulk depois que rasgasse a camisa. Ta aqui o café Cliff!

-Obrigado Tina.

-Então quer dizer que a cachaça esta em primeiro lugar e a gente é a sobra seu nego safado.

-Não é isso baby, mas sabe como é...A cachaça a gente sempre pode achar, gente como vocês são umas agulhas no palheiro.

-Fico feliz em saber disso Young man.

-Sabe cara, eu não me dou muito bem com as pessoas num espectro geral. Quando vejo as que me dou, ou são gênios ou são totalmente birutas. E você sabe tantas coisas que poderia muito bem morar dentro de um lâmpada meu velho.

-E eu?

-Você é uma gatinha biruta e muito bacana. E o Tez? Com vai o garoto?

-Terrível. Os seus vão crescer também.

-Eu sei disso.

Olhei no relógio, e vi que já eram oito e meia. Junto de pessoas bacanas, a hora corre rápido como um jaguar.

Me despedi e caminhei solitário como de costume pra encontrar minha esposa e resolver as burocracias infernais que travam o mundo.

Tinha um bocado de pena dela.

É um bocado difícil conviver comigo.

Pelo menos eu acho.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Nelore velho no abatedouro




Blake entrou pela porta de ferro, subiu a longa escada, cruzou a catraca, foi ao fundo do salão, pendurou o saco tão surrado quanto a sua própria cara carcomida pelos anos de trabalho noturno, loucura e alucinação na girafa de madeira e foi pro seu canto.

-E ai Dereck!

-E ai Blake.

Derek era o cara que chefiava aquele lugar. Era um cara bacana.

O lugar estava cheio de jovens. Blake era o cara mais velho do recinto, porém era durão. 105 kg e forte como um nelore.

Blake foi até o canto vazio e começou a se excercitar tentando, pelo menos naquelas duas horas, esquecer de tudo.

Era uma coisa engraçada. O mesmo cara que levantava grandes quantias de peso numa boa, de pescoço taurino e expressão rude, era na verdade a porra de um beberrão indizivel.

De repente Derek chega perto e diz.

-Ei Blake! Vai ter uma boa aula agora na sala ao lado. Por que você não vai até lá.

-Pra mim não rola cara. Ta só a gurizada, vou passar o maior carão.

-Vai nada, tu é um cara durão.

Blake já tinha desistido da idéia quando uma jovem passou por ele.

Devia medir um metro e meio mas que METRO E MEIO!!!

Diabos! Era uma maquina de deixar homem louco!

Seios duros como rocha, um rabo empinado e firme que fazia retaguarda pra uma xota grande e saltada, emoldurada por um colant azul.

-E ai grandão? Vai encarar a aula?

A voz grasnava feito um pato, mas...FODA-SE ela não era uma cantora dos Supremes!

-Vou! Pega leve comigo hein! Sou velho demais pra essas coisas.

Entraram umas 10 pessoas na sala, todos jovens e vistosos, exceto ele. Juventude, força e vitalidade. Sonhos que se desfarão ante as marretadas do matadouro da existência.

Sentiu certa inveja deles.

Ela mandou que todos pegassem enormes bolas de plastico.

Blake pegou a sua e estirou-se num colchonete.

Daí tudo começou.

Ele sempre fora um desastrado completo.Quase caiu umas duas ou três vezes, parte da falta de equilibrio gerada pela idade e pelo alcool.

Resistiu até onde pode e depois cedeu.

Levantou-se bravamente e conseguiu chegar à segunda etapa.

Quando pensava em desistir percebeu que ainda valia a pena.

A tal instrutora fez um movinto estranho que mais lembrava a uma foda. Então uma lapa de seio começou a correr marotamente pra fora do colant.

Seria prudente desviar o olhar e esquecer mas... ORA! QUE VÁ TUDO A MERDA! Pensou e ficou ali fingindo ser um alteta e olhando aqueles peitos e rezando, olhando uma pequena auréola que teimava em escapar enquanto fingia ser um pessoa decente e calma e rezando, sendo premiado com aquela visão de um bico na manhã fria de junho enquanto fingia que era tudo uma puta de uma casualidade e rezando.

Rezando pra que aquela sorte durasse um pouco mais.

Rezando pra que toda a merda do mundo escoasse por debaixo de seus pés rumo ao esgoto dos infernos.

Rezando pra que essas palavras no papel fizessem algum sentido...

Por fim, tudo acabou.

A garota se dirigiu até ele.

-E ai? Como foi?

-Bom, vou precisar de uns 3 dias de bebedeira pra me recuperar disso aqui.

-Você tem problemas com bebida?

-Não, tenho probelmas é com um monte de coisas, a bebida ajuda a destilar.

-Semana que vem tem mais.

-Talvez eu venha.

-Até.

-Até.

Blake voltou pro salão, ergueu seus pesos homéricos e depois saiu pro Sol gelado de inverno sem garota linda, sem sorte, sem bico de peito.

Apenas uma garrafa, um cigarro e algumas linhas pra por no papel.

Rezando pra que a fraude que sempre foi, nunca se dissipasse em sonhos de grandeza.