terça-feira, 10 de junho de 2014

FANTASMA!

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Ele acordou às 3:00 da manhã, assim, do nada, sem ter pesadelo ou coisa alguma, apenas acordou bestamente numa noite fria e besta qualquer como tantas outras que passara por sua vida.

Vida. Puta vida miserável que vinha tendo nos últimos tempos.
Uma porção de brigas estúpidas e sem sentido mas que vinham realmente lhe arrancando a carne dos ossos.
Ele estava cansado. Cansado da briga e do jogo e de certa forma cansado de viver tudo aquilo, todos os dias pela maioria das horas.
Foi até a cozinha, era um quarto e cozinha, pequeno e frio, mas era aconchegante.

Olhou a foto pendurada na porta e sorriu.
Aquela foto ainda era algo pra se apegar, às vezes, e pra ser honesto, na maioria delas, dava-lhe mais força que um Jesus pendurado na parede.
Serviu-se de uma dose dupla de seu Cutty Sark.
Ele sabia que tinha de estar no escritório na outra manhã e estaria.Dormiria, com sorte, umas duas horas de sono e depois enfrentaria o trânsito, a loucura, o chefe com cara de merda, a vida sem sentido algum. 

Lembrou-se de um rosto, de uma música e de um perfume.
Afastou-os da mente, mas eles não fugiam.
Seria bom tudo aquilo, poxa como seria, mas era um pedaço morto de um sonho desfeito, como tantos outros em sua trajetória.
Algo pra torturar de um jeito ou de outro, só pra machucar ferozmente quando, justamente, você não queria.
Estavam  entalhados em sua alma.
Fantasmas de promessas nunca cumpridas, tatuagens de fracassos eternos.
Mas era parte de uma vida pra qual ele morrera.
Olhou pela janela a noite fria, a lua encoberta por nuvens carregadas e sombrias. às vezes era assim, e talvez, fosse pra todo mundo de quando em vez, mas pra ele tinha sido demais, vezes demais, tempo demais.
Lembrou-se de pessoas, nomes e dias.
Pessoas para as quais ele não era nada além de um fantasma, morto e esquecido em algum canto e ele não tinha a menor vontade de assombrar.
Voltou à cama, tirou os chinelos e deitou-se.
Fitou o teto por alguns minutos e olhou as contas sobre a escrivaninha, em frente a tela do computador. 
Olhou pra baixo e viu seu corpo, velho e enrugado,os dentes em petição de miséria e o lençol rasgado e costurado uma centena de vezes. Olhou pra cozinha, ali na porta a foto, uma coisa pra seguir em frente.
Era uma última esperança, uma última cartada num jogo que ele vinha perdendo há tempos.
Era uma tábua de salvação em meio a um naufrágio, algo que traria um fantasma de volta à vida, não pra assombrar mas, pra viver e morrer, agora em paz, dessa vez em paz.
E, como que numa prece, ouviu uma canção não tão melodiosa, mas que naquela hora fazia todo sentido.





 

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Brothers and sisters. it's time to talk!!!