quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Virtual Insanity

Image Hosted by ImageShack.us
By bmozz at 2010-12-22



Blake chegou em casa com a porra de uma dor nas costas que já fazia alguns dias que o incomodava, mas agora se tornara insuportável. Abriu o frasco de remédios e mandou dois comprimidos goela abaixo como se fossem jujubas. Sentou-se à mesa da cozinha, pegou a calculadora de mão e fez as contas. Não era torcedor do Manchester, nem era comunista, mas continuava no vermelho ao final do ano. Fora assim desde janeiro.
Foi até o sofá, ligou a tv e começou a assistir algumas lutas antigas. Aquela merda era só estupidez, mas dava uma certa calma, ajudava a encarar os galhos.
Tinha mais ou menos uma hora pra dormir antes de cair no mundo e continuar na batalha, mas foi impossível. Ele já nem lembrava mais quando fora a última vez que as coisas eram possíveis...
O despertador tocou, um gato gemeu, uma criança chorou e Blake foi até o quarto e falou com ela. A luz apagada e o velho resmungar matinal. Ele nem lembrava mais quando as coisas começaram a ficar desse jeito...
Blake saiu, ligou o radio, ouvia Sharon Jones e foi até o velho prédio bege. Resolveu pelo menos um dos problemas que vinham atormentando sua mente e realmente se sentiu feliz e aliviado. Uma grande vitória num dezembro que começara com uma dolorosa queda.
Caminhou até a avenida fumando um cigarro e sentindo-se bem, bem mesmo. Olhou as vitrines, os bolsos então voltou pra realidade da dureza. Não era possível comprar certas coisas que ele queria. O natal e seu consumismo desenfreado acabavam por despertar isso em todas as pessoas do mundo e Blake não era tão diferente assim do resto do universo.
Depois chegou em casa e ela estava lá.
Como de costume o olhar rançoso e ressabiado pra ele. Ele bem sabia que não era nenhuma maravilha de cara, mas também tava bem longe de ser uma porcaria completa. Trabalhava duro e segurava a barra da melhor maneira que podia e até já se perguntava quando a mamata de só trabalhar em um emprego duraria.
Realmente, 50 dias de folga me um trampo só já estavam começando a fazer diferença no bolso.
Ela sequer o olhou. Estava sentada, jogando um troço eletrônico, cheio de cores, musicas e efeitos legais. O paraíso virtual de alegria, e calmaria. Um rancho, com rede e sombra e água e cavalo. Sem olhar pra louça entulhada na pia, sem ver a roupa ocupando o lugar de destaque da sala sentada gloriosa na poltrona vermelha.
Blake foi à sacada, acendeu um cigarro e olhou pra dentro.
Ela ainda admirava o paraíso virtual feito um magnífico trono hebraico.
Ele não sabia se aquilo era loucura, sacanagem ou ira.
Sentiu uma vontade gritar de ódio e ao mesmo tempo uma indizível tristeza por as coisas serem e assim e ele fazer parte dessa loucura.
Enquanto ela admirava alegria digital sem o ver., ele foi à cozinha serviu-se de carne com batatas e depois estirou-se à cama, buscando um sono merecido que talvez, com um pouco de sorte, ele alcançaria.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

H.E.R.O.I



Quando o dia amanheceu chovendo e pela janela só se via a cidade afundando sob as águas enquanto eu fumava o primeiro cigarro do dia, foi que deu pra sentir de verdade o que é que tinha acontecido.
Tudo bem, não era o fim do mundo nem minha primeira ou maior queda, mas assim mesmo o gosto de merda vinha do estomago pra boca e parava no meio da língua.
Engraçado é sentir isso só dias depois, mas durante toda minha vida foi assim. As coisas sempre num ritmo mais lento e vindo depois e nessas horas da vontade de largar tudo...
Depois passa, você levanta, se reorganiza e volta pra batalha mais forte, mas na hora é foda...Da uma tristeza da porra mesmo.
Daí sobra a pagina em branco, ali na tela piscando como confetes de luz e nela você descarrega tudo...Pelo menos pra mim funciona.
Levantar, fumar um cigarro, olhar a cidade afundando na chuva. Sentir um pouco de pena de mim mesmo, pra perceber que posso ser durão, mas ainda dói, e às vezes, dói pra caralho.
E é ai que você lembra que ainda tem que caminhar e remar contra a maré de qualquer jeito. As contas continuam vindo, o mundo continua a girar e você, no meio dessa corda bamba e louca, se equilibra e reage por que tem gente precisando de você.
Gente pela qual, apesar das falhas e derrotas, você ainda luta até o fim.
De cabeça erguida.
Machucada.
Ou sem cabeça se for preciso.
Gente pela qual a última gota de sangue é derramada sem pesar.
Gente.
Gente pra quem você luta e mesmo sob as chamas o sonho Ícaro nunca se encerra.
Gente pra quem você sempre tentará, às vezes mesmo sem conseguir, ser um...
Herói.


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Declínio e Queda.

Image Hosted by ImageShack.us
By bmozz at 2010-12-14


Levantei meu corpo moído feito uma tabua de dor, me troquei e sai pela portinha.
O Sol se levantara cedo naquele domingo e eu só sabia que TINHA de estar lá.
Faltavam ainda quase 3 horas pra resolver a tal parada e, pra matar o tempo, me dirigi até a academia pra TENTAR aliviar a tensão.
Peguei os pesos e comecei a fazer a ÚNICA coisa que eu aprendi a fazer direito na porra da minha vida. Eu realmente estava em boa forma e seria TUDO mais fácil se fosse só dar umas porradas, mas não era assim.
Acabei, tomei um banho, me vesti, acendi um cigarro e sentei lá fora no banquinho de concreto.
Silvester chegou e começamos a bater papo sobre musica e outros assuntos quando o telefone tocou.Era Sam.
-CLIFF! ONDE VOCÊ ESTÁ?
-Tou aqui no trampo, vem pra cá e vai com a gente.
-Beleza.
Fumei mais um cigarro e Sam chegou. Entramos no carro e seguimos pela avenida que se iluminava com a manhã.
Chegamos e fiquei ali no meu canto, calado e contrito. Sempre foi assim e será eternamente.
Os portões se abriram e então desci as escadas, depois a rampa e por fim entrei na sala.
Não me sentia bem como me sentia das outras vezes.Uma sensação estranha de ansiedade e estranheza me abraçava.
Scap estava próximo a mim.
-Hey Cliff! O que você acha?
-Sei não... Não to com um bom pressentimento sobre isso aqui.
-Desencana.
Uma garota loura, jovem e com a cara estranha, mas de ótimos peitos veio passando de mesa em mesa entregando a papelada. Depois, disse algumas baboseiras e então abri o pequeno caderno de sulfito.
Fui recebido com um belo soco na boca do estomago pelas palavras no papel.
Estava perdido e acuado, mas assim mesmo fui em frente.
No final, consegui me arrastar até o final do round e pra ser derrotado por pontos.
Sai da sala, subi a rampa, a escadinha, acendi um cigarro e caminhei sob o Sol rumo a minha casa com um gosto amargo de derrota na boca.
A tarde chegou e tudo que restou foi dar um foda-se e seguir com a garotada pra piscina e ficar ali, imerso sob as águas, onde o mundo não sabia de minha existência, enquanto uma triste canção pra momentos de queda, ecoava em meus ouvidos.


domingo, 12 de dezembro de 2010

Uma tarde pra analisar a loucura.

Image Hosted by ImageShack.us
By bmozz at 2010-12-12



Sai da academia num tiro só e entrei no ônibus. Sentei, liguei o radio e estava tocando Mudhoney!
Legal! Rock’n’ roll velho e bacana. Peguei a porra da apostila digital nas mãos e comecei a ler e, lá no fundo, tinha a impressão que estava perdendo meu tempo e afundando meus pés em merda quente. Sentia que deveria ficar observando os rabos que passavam pela avenida na tarde quente de quinta e que, por mais que eu me esforçasse, aquela porra daquela vaga NÃO seria minha.
Desci do busão, cruzei pela banca de jornal e entrei na primeira direita. Rua velha conhecida de minha adolescência. A porta ainda era a mesma. Toquei a campainha do porteiro eletrônico e ouvi a voz metálica.
-Sim?
-Hatcliff Jhonson da #%&
-Ah...Sim, pode entrar.
Subi as escadas e olhei pra ela. Era velha e enrugada como a porra de um saco de maracujás. Bem, era isso e isso.
-O senhor pode entrar na sala, e aguardar.
Entrei e vi Bee Bee.
-Hey Bee Bee! Seu gordo sacana! Você esta me perseguindo!
-To nada! Você chegou depois!
Uma dona um pouco mais nova que a outra que não era bonita nem gostosa mas pelo menos demonstrava vitalidade entrou.
-O senhor é?...
-Hatcliff.
-Sim, Preencha a ficha e depois me entregue.
Preenchi todas as fichas num tempo recorde. Devia ser a 10° vez que fazia aquela merda.
-Oooh ! Já acabou? Ótimo, pode aguardar na sala ao lado.
Sai, sentei no largo sofá, confortável e macio. Peguei um copo de café, uma bolacha e então fui chamado mais uma vez.
Dessa vez era uma dona ruiva e cansada.
Entrei na sua sala. Não havia nada de glamour naquilo.
Sentei na cadeira de espaldar alto e ela começou.
-Bem, senhor Hatcliff o senhor sabe por que esta aqui não?
-Olha mulher...Corta essa de senhor Hatcliff! Meu nome é Cliff e fim.Sei sim, a mesma velha conversa bacana regada a chá.
-Heheh...Sim e então?
-Bem, não tem muito pra dizer. A #%& nos esfola como rabo de gato, nos paga um salário digno de fome, e depois nos mandam pra cá pra conversar contigo. Mas no geral to bem...Filhos, uma hipoteca pra pagar...
-Sei...
Disse isso e virou a caneta nas mãos de um lado para o outro na altura das mamicas.
Se fosse uma carnuda seria bacana e me deixaria de pau duro, mas era esbagaçada demais pra isso.
-E no resto?
-Bem a vida é uma coisa difícil, sem sentido, pelo menos a minha. A vida não gosta de mim, vive tentando me foder e eu desviando o rabo. Mesmo os prêmios, a não ser as crianças, nunca são bons...Enfim, nunca posso pegá-la ao inteiro, sempre aos poucos... É como engolir pequenos baldes de merda.
-você é uma pessoa amarga.
-Amarga não garota, só sou resignado.Aprendi a conviver com isso e sigo em frente.
Depois foi um pouco de teste motor e por fim ela disse.
-Tudo bem, você pode continuar.
-??
-A trabalhar na #%&.
Não era a melhor coisa do mundo, mas era melhor do que ficar sem teto. Enquanto existir um teto sobre a sua cabeça ainda se tem alguma chance, sem isso, muito pouco se pode fazer.
Desci as escadinhas, atravessei a rua, subi pela alameda e entrei num bar.
Um traçado com torresmo e matei as horas da tarde até a hora de entrar no trampo e deixar que as horas me matassem aos poucos.



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Gênio Judeu.

Image Hosted by ImageShack.us
By bmozz at 2010-12-07



Quando eu fazia alguma cagada no computador, do tipo deixar a tela de apresentação com a imagem de uma mina enfiando 4 dedos na xota ou simplesmente apagava tudo e não fazia A MENOR IDÉIA DE COMO VOLTAR AO NORMAL, o Jake era meu guru e minha luz no fim do túnel.
Jake era um dos caras mais mal-humorados , sinceros e bacanas que já pisaram na crosta terrestre.Tinha uma sorte danada de tê-lo como parceiro. É claro que na maioria das vezes que conversávamos Jake me xingava por algum motivo. É claro que na maioria das vezes ele estava errado.
Jake tinha um pescoço longo e fino e embora fosse judeu, de nome Jacob, mais parecia um b-boy. Roupas largas e bonés “gang-star”. Chafurdava na mesma merda de emprego que eu e se virava em ocupações extras pra pagar as contas.
Eu estava uma noite dessas me fodendo feito um cão sarnento na porra da porta do meu segundo emprego quando Jake chegou.
-E ai rabino! Bom te ver.
-Tava trampando lá embaixo, tava chato demais e resolvi dar uma passada por aqui.Alias, que merda de trampo que você tem hein cara?!
-fazer o quê? As contas estão sempre chegando e eu preciso me virar.
-Também não posso falar muito, lá no velho ta uma bosta. O Gibbs continua sacaneando.
-Aquele gordo é um filho da puta de mão cheia, um parasita escroto.
-É...E ai? Continua baixando muita putaria?
-Continuo.Parece uma força externa e maluca. Tento não entrar mas quando vejo já estou na parada.
-Eu diminui.
-sorte sua.
Era uma noite quente de verão e jake coçou a mão por debaixo da camisa.
-Cara! To de saco cheio de carregar essa porcaria! É um jogo sujo.
-É e acho que no fim o Maximo que a gente consegue fazer é empatar. Mas as contas chegam e agente tem que dar um jeito de pagar, então o trabuco ainda é solução.
-Pode crê.
-Ow! To precisando de uma luz. Preciso de@#$%
-Caramba Cliff! Como é que eu vou saber fazer isso?
-Ora! Você é o gênio da parada.
-Ainda não manjo, mas vou descobrir...Ah! Bacanas suas histórias no site.
-Fico feliz que você tenha curtido.Na próxima eu vou te colocar lá.
-Não me zoa hein?
-Pode deixar.
-Cara! Vou indo nessa antes que me percebam sumido e me encham o saco na reentrada.
-Vai com deus brô.
-Fica você também.
Jake seguiu pro trampo com o berro embaixo da camisa e a cabeça genial.
Eu segui pra minha com o berro embaixo da camisa e a cabeça cheia de cachaça pra variar.
Entrei, acendi um cigarro e escrevi essa história.



quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Um Grande Garoto

Image Hosted by ImageShack.us
By bmozz at 2010-12-01



Entrei pelo portão azul e grande, cruzei o jardinzinho sempre mal cuidado, passei pela porta velha e gasta e entrei na sala.
Ele estava sentado ouvindo música indiana e lendo uma revista de sacanagem.
-É big baby! Você não perde essa mania mesmo né?
-Olha quem ta falando! Você também um puta de um onanista.
-Convicto graças a Deus! Como vai Procol?
-Numa boa Cliff e você?
-Levando cara...Passei umas poucas e boas esses tempos atrás. Tipo encarcerado naquela merda.
-Fiquei sabendo. Você, o Mike e o Sam ficaram famosos.
-??
-O pessoal daqui falava que vocês eram uns beberrões e arruaceiros.
-O pessoal daqui é mesmo uma cambada de filhos das putas.
-Eu sei disso. Defendi vocês.
-É mesmo?
-É. Disse pra todo mundo que não era bem assim, que vocês não eram arruaceiros.
-Obrigado baby! Você é mesmo um grande garoto. Quem ta nessa revista?
-T Mynx! Essa é favorita sua.
T Mynx. O Maior e mais belo rabo da industria pornográfica desde os anos 80 até hoje e ainda vivo e em atividade
-É...Essa é lendária, mas e essa porra dessa música?
-Ravi Shankar cara! Muito louco.
-A sonoridade até é legal, mas...Quando penso naquela citara e lembro dos neo-hippies que gostam dessa porra sinto uma vontade danada de sair metendo o pé em tudo.
-Você não perde essa mania espírito de porco.
-Total. Nunca consegui me ajustar junto á sociedade. Dou-me bem com poucas pessoas, dentre as quais você se elenca. Não sei se isso faz bem pra algo, mas é real.
-Ta parecendo viadagem.
-Ow!
De repente a porta abriu e ela entrou. Era gorda, muito gorda e a cara tinha a cara sebenta e empapada. Embora eu não sentisse parecia sempre estar fedendo a um suor azedo e brutal.
-Ei! Não pode ficar gente de fora aqui nessa sala.
-Ele não é de fora Rib e, alias, ele agora é chefe.
-é mas...
-Hey Procol, desencana. Escuta aqui filha, não to atrapalhando nada nem ninguém então fica fria que vai dar tudo certo ok.
-Hum...
Resmungou e saiu com aquele fedor obeso a empestear a sala.
-Proc! Não sei como você consegue tolerar a convivência com essa filha da puta escrota.
-É meu trampo cara.
-Mas você podia vir conosco. Eu, Mike, Sam, Jacob, Six-Side.
-Sei lá...O Jacob e o sam já me chamaram também.
Olhei o relógio e já eram mais de 18:15. Minha hora de ir pro trampo.
-Saca ai baby, se tu quiser vir, me liga.
-Tudo bem cara, vou pensar no assunto.
-A gente se vê.
-Yo!
Fui embora enquanto aquele grande garoto seguia seu curso numa tarde de Sol.