quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Contra todos os prognósticos



Realmente não sei onde errei ou, talvez eu saiba e seja mais confortável dizer que não. Ponderar o imponderável seguir com o palpite louco contra todos os prognósticos, ignorando de uma forma irascível e solene todo o conhecimento angariado por anos de cabeçadas hípicas e outras etílicas e mais algumas banais.

O resultado só poderia ser este. Viola em caco e banca quebrada na aposta placê.

O doloroso não é a volta na chuva com os pés molhados em poças.

O Doloroso é saber dos terceiros envolvidos

Isso Dói pra caralho...

Mas de qualquer forma, resta voltar e tentar encontrar alguma coisa que faça seguir em frente.

Às vezes isso conforta e às vezes, isso se torna uma busca tão frenética e insana que, sinceramente, da vontade de parar e mandar tudo à merda.

MAS HÁ OUTROS QUE PRECISAM DE VOCÊ.

Então, você vai e entra naquele velho salão escuro, conhecido de seus olhos e busca por alguma novidade, mas elas não estão lá.

Apenas o velho ranço, as coisas espalhadas de forma desconexa e aparentemente, deixadas ao léu de forma proposital, apenas pra te deixar ainda mais emputecido.

Então, as mãos percorrem o conteúdo dos bolsos puídos, por anos de sujeira, fuligem e sabe lá deus o que mais e encontra o velho bilhete.

Uma aposta feita contra todos os prognósticos.

Uma aposta no azarão tentando, em vão lançar-se ao céu em um só salto.

Uma aposta que só poderia dar em merda.

Agora, é banheiro, cigarro e uma música pra ouvir.

Olhar as pernas e saber que ainda resta força pra levantar, sacudir a poeira e seguir em frente.

Contra todos os prognósticos e vencer.

Só por saber que você ainda tem algo que vale a pena pra mostrar.





terça-feira, 27 de setembro de 2011

30 Centímetros.






Acordei, levantei da cama, acendi um cigarro e depois sai pra rua. Era um dia claro e ameno de outono. Fernando Henrique Cardoso era o presidente do Brasil na época.

Abri minha caixa de correio e havia muita porcaria que joguei fora sem ao menos me importar. Contas, artigos de oficina e outras coisas, que devido ao meu estado físico prejudicado em razão de uma cirurgia de joelho não me eram interessantes no momento, mas uma me chamou a atenção.

Era de uma leitora de meus contos. Chamava-se Vera e era mesmo uma boa cara.

Trocamos correspondências e telefonemas. Sua voz era grossa e um pouco rouca, mas tinha uma timidez sexy e atraente. Era corpulenta, mas não chegava a gorda. Uma campeã dos meio pesados. Seios grandes e redondos e um cabelo negro como a noite.

Por fim, acabou acontecendo de uma forma qualquer.

Marcamos um encontro.

É claro que seria uma coisa normal e tal, mas algo não me cheirava bem e tempos depois eu iria descobrir.

Nos encontramos num bar meia classe em west zone.

Ela chegou linda e por mais incrível que possa parecer estava interessada em mim em essência.

Talvez um prazer pelos bêbados e derrotados, quem sabe.

Eu dirigia um velho italiano vermelho que vira e mexe me pregava peças e ela chegou a bordo de um francês zero quilômetro.

Conversamos e era um papo agradável.

Disse-me ter acabado de sair da faculdade e cursara artes cênicas em uma faculdade cujo valor da mensalidade poderia pagar todo o meu ano.

Senti como se perdesse ali, uns 20 cm de altura.

Olhei pro meu carro e o dela e mais 10 cm me deixaram...

Minhas roupas puídas e gastas, contrastavam com as dela, importadas de algum quinto dos infernos indianos de Bali.

Trocamos um beijo e depois outro e comecei a beber um scotch enquanto ela tomava um suco de grapefruit.

Na hora de se despedir entrei em meu carro e ela no dela.

Rumei pra east side sentido o banco do carro estranho. Parei num semáforo e coloquei-o mais à frente.

Dias depois ela me ligou e que fosse até sua casa.

Quando ela me deu o endereço senti que mais ou menos uns 50 cm de altura me deixavam, mas assim mesmo me sentei na velha jabiraca e me mandei pra lá.

Ajeitei o banco mais à frente novamente. Estava realmente diminuindo.

Quando cheguei era um GRANDE condomínio de luxo. Fui barrado na entrada por um segurança brutamontes e com cara de estúpido, mas com um corte de cabelo da moda.

Falei meu nome e aguardei

Aguardei...

Aguardei...

Até que ela apareceu.

Pediu que eu entrasse, mas quando olhei a grande alameda com cactos importados lá do cu das florestas peruanas, senti que estava ainda menor e não pude.

-Vera.

-Sim Cliff.

-Olha, eu te acho uma mulher fantástica, mas acho melhor pararmos isso por aqui.

-Por que?

-Você pertence a um mundo que eu não conheço e não tenho ticket pra entrar.Esse lance pobretão na alta roda só da certo em Hollywood.

-Isso não tem nada a ver.

-Tem sim. Adoraria ficar com você, realmente, mas não dá.

-A gente ainda se fala?

-Sim.

Olhei pra trás e vi o grande portão se fechar e seu vulto sumir.

Tentei entrar no carro, mas não consegui.

Estava medindo cerca de 30 cm de altura.

Corri pela alameda vendo tudo extremamente enorme, como era na verdade.

Imaginei o futuro. Eu sentado em uma larga mesa de jantar e enquanto Vera e família mostravam os diplomas eu não tinha nada além de uma rola preta, dividas, grilos e uma cuca fundida.

Vi um bar e entrei.

Ninguém me notava.

Esbarrei numa garrafa de cerveja que quase me matou ao cair sobre mim.

O liquido me banhou e ganhei uns 20 cm.

Dei um gole, lambendo o balcão como um cachorro faminto e consegui um pouco mais de tamanho.

Vários goles após, eu já era dono de meu um metro e oitenta novamente.

Entrei no carro e dirigi até uma velha avenida já cantada na década de 60.

De volta pra minha altura normal, meu mundo normal, minha vida normal.

Jogado no meio do lixo e de pessoas anormais.