quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Doce e Duro Coração











As manhãs eram um terror horrível pra mim nessa época.
 Trabalhava a noite e quando chegava em casa, o Sol era um inimigo a ser vencido.
 Era um apartamento quente então eu precisava DESESPERADAMENTE adormecer antes que ele nascesse ou estaria fodido e não dormia, ficando com a aparência de um zumbi. Tinha grande dificuldade em pegar no sono, tinha sempre que beber algo pra poder me dopar e cair, mas era o que era necessário fazer pra sobreviver.
 Numa manhã dessas estava na sala, deitado no sofá, o cinzeiro abarrotado de bitucas e um copo pela metade de vinho vagabundo, ouvindo um som que vinha da tv tentando adormecer quando a campainha tocou. Me levantei e fui atender. Duas senhoras por volta de uns 50 anos.
-Bom dia moço.
-Bom dia.
- O senhor conhece a blá blá blá...Testemunhas de Jeová.
 Não tenho nada contra nenhuma religião nem a favor, não me ligo nisso mas respeito a ideia de cada um.
-Moça, olhe...Legal seu lance ai, mas não é muito comigo não tá?Trabalho duro, doze horas por noite, e essa é a hora que dá pra eu dormir, se for possível não vir mais aqui, ao menos nessa hora eu agradeço mesmo.
-Mas senhor blá blá blá..
 Acabei com dó da tia.Meu sono tinha ido embora.Ouvi mais uns dois minutos de conversa, peguei uma revista boa pra recortar pra algo fechei a porta e tentei em vão dormir.
 Passada uma semana eu acho, lá estava eu, a mesma cena. O cinzeiro, o copo, a tv, meus olhos sangrando a campainha...
 -Bom dia moço blá blá bl
 -Olha dona falei contigo na semana passada e numa boa...PELO AMOR DE DEUS! NÃO TOQUE MINHA CAMPAINHA DE MANHÃ!
- Mas moço sabe..
- Dona sou ateu! Um bom dia.
 Fechei a porta já meio acabrunhado.
 Mas de qualquer maneira eu acabava respeitando as senhoras.
Tinha uma boa recordação de minha infância.
A mãe dos irmãos, Henry, Joe, Marc e Will Arlington era Testemunha, então sempre haveria em minha mente essa boa lembrança, ainda que o sono  me fosse roubado...
Percebi que eles vinham numa baita gangue.Fui até a portaria do prédio conversar com o Sr. Barnes, o velho porteiro que estava mais morto que vivo.
-Hey Barnes! Mas que porra é essa dessas donas batendo no meu apartamento pela manhã?
-São da minha onda Blake, você deveria ouvir a mensagem delas...Você é um cara que Precisa  da Palavra.
-Barnes meu velho...Eu preciso de Campari, alguns mangos pras contas, uma boa foda de vez em quando e SONO!!!
--Ah Blake, entenda...Você precisa...
-Beleza Barnes!
Fui embora e me senti vitima de uma conspiração.
Andei trabalhando duro e meio que me perdi no tempo, achei que a conversa com Barnes havia resolvido tudo até que numa manhã as vi chegando.
Fui até a sala e liguei o estéreo.
Slayer no ultimo volume.
Tinha a esperança que as espantasse sem que eu precisasse ser rude.
Elas não sabiam que todo  meu espirito de porco estava sendo represado em respeito as boas lembranças pela senhora Arlington.
A campainha tocou no instante que Tom Araya gritava.
Elas vão embora, pensei.
Tocou de novo.
E de novo
E de novo

Vesti o roupão e fui até a porta.
-Bom dia, o senhor...
-Olha minha senhora por favor me escute..Tenho um grande respeito pelas senhoras, por suas idéias e tudo o mais mas por Deus do céu mulh...
-O nome é Jeová
-Que seja! Por Jeová, por Buda, Por Sócrates, Zico e toda seleção de 82, NUNCA MAIS TOQUE NESSA CAMPAINHA! Não gostaria de ser rude com vocês.
-Mas senhor
-Por favor! Eu imploro! Sou alcoólatra assumido...Só quero beber até morrer em paz e me lascar 12 horas noturnas num emprego infernal, será que é pedir muito?!
-O Senhor precisa de ajuda
-Bom dia madame, tenha um ótimo dia! Espalhe a palavra mas pelo que quiser que seja NUNCA MAIS AQUI!
Fechei a porta e jurei que meu pesadelo estaria acabado.
Passado alguns dias vi a gangue entrando no prédio e conversando animadamente com Barnes.
Pensei por um momento que minha paz havia chegado, mas uma sensação de pesadelo se apoderou de mim.
Resolvi que aquela guerra acabaria hoje.
Lembrei das broas de milho na casa dos Arlington, de todo o carinho que sentia pela mãe deles, mas não dava mais.
Eu precisava de sono.
Me preparei para a cartada final.
Liguei a tv, e ela apareceu ali, brilhante, reluzente e eternamente linda.
Monica Sweetheart.
Deus não me deu nada.
Não me deu ionteligência, não  me deu beleza, doçura, dinheiro nem habilidades esportivas mas me deu um cabo de marreta.
Fui olhando Monica e lustrando o cabo.
Lustrando o cabo.
A campainha tocou.
Era a hora.
Meu ultimo ato abjeto contra a humanidade, meu sono voltaria sem a necessidade de Campari.
Sai pra fora com aquilo tudo apontando com um fuzil.
Imaginei a senhora gritando e correndo e partindo e eu ficaria ali, com a cara de demente, a boca de macaco e a paz mas...
A gangue havia mudado.Junto da senhora estava uma garota de uns 23 anos.
Diabo! Eu lá, daquele jeito, a garota.
Estava a um palmo da prisão e de uma bela foda.
Uma vontade insana de ver o que havia embaixo daquela longa saia, o negócio permanecia firme, meus olhos virando.
A senhora estava coma cara livida, acho que não me via
-Bom dia senhor
Fiquei em silêncio.
Estava concentrado demais na jovem.Esta olhou assustada.
Cutucou a senhorinha com o braço então ela viu.
-Minha nossa! Que vergonha!
Saiu andando.
Tinha vencido a guerra mas perdido um ótimo rabo
Um rabo jovem e emoldurado por uma longa saia.
Entrei em casa, olhei o rosto de Monica e fiz o que tinha que fazer.
E depois, finalmente dormi.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

15 minutos



 Cheguei,fumei um cigarro, me troquei e fui lá,vender minha carne e minha alma por trocados pra pagar o trago,a casa,o rango,o cigarro e enfim,tudo que era necessário pra se manter vivo nesse jogo louco que nos era jogado dia após dia.
 Quando voltei eles estavam conversando com Mildred.
 - Cliff, será que você poderia ajudar?
 - Qual o grilo?
 - É sobre ....
 - Bom, vamos ver,dá..dá sim,só tem esse lance,mas se for de boa pra você?
 - Tudo bem!Tudo bem! Vou falar com o pessoal.
 -Ok.
  Daí ele foi embora,deveria ter uns 25 anos, negro,cabelo rasta. Um mochileiro,um cara rodando por ai,conhecendo gente,se aventurando,lembrou a mim mesmo antes de ter sido pego pelas engrenagens do mundo. Estava junto de uma garota simpática,acho que ele meio que tinha algo com ela. Era um cara de sorte,num momento de sorte.
 Entrei na sala, tomei um café e quando achei que ele simplesmente haviam sumido voltaram. Agora tinham vindo com tudo mesmo.
 - Vamos nessa coroa?
 - Vamos Porra,claro que vamos.
   Seria bem melhor se eu tivesse um Campari pra me acompanhar mas não tinha,então foi a seco mesmo. A equipe dele era de umas seis pessoas. Ligaram a câmera. A garota que havia me abordado ficou junto ao garoto e uma outra começou a perguntar e filmar.
  Era difícil manter a serenidade,sem poder beber e olhando aquela coisinha à minha frente. Quantos caras já deviam ter se esrteprado ali? Quantos caras devem ter achado que tinham acertado o dardo e depois se foderam? Era mais ou menos 1,60 de puro charme e gostosura,sem ser vulgar,sem ter malícia.
 Sentei no chão, a câmera ligou,meu pau duro,me contive,ela queria apenas minhas palavras e não meu pau. Tudo bem,tudo bem.
 Por fim,foram uns 15 minutos tagarelando minhas idéias insanas.
 Falei sobre música,cinema,bebedeira,violência,escola,amor,ódio,homens,mulheres,literatura e tudo o mais que me perguntavam.
- Você tem visão coroa.
- Diabo garota...Na minha idade já passei por um bocado de merda...E se sobrevivi devo servir pra algo.
 Deveria ser uma tarde realmente desinteressante pra terem pego eu por exemplar,ou sei lá,talvez algo de exótico,sabe-se lá que porra.
 Desligaram a câmera e fiz as recomendações.
 -Olha,vocês sabem qual é... FAÇAM O QUE QUISEREM,SÓ NÃO ME FODAM!
 -Pode deixar coroa! Você tem umas ideias muito loucas! Disse o guri Rasta.
 -Idéias loucas não pagam conta...Retruquei.
 - Foi uma ótima entrevista. Disse a garota de coxas grossas e câmera na mão.
 - Sim,mas não leva uma mulher dessa pra cama,pensei comigo.
   Por fim partiram com suas câmeras,seus ideais,seus sonhos,ela levando tudo isso é aquele belo rabo,um belíssimo rabo,coxas,boca,cabelos,olhos e com uma alma dentro. Sorte de quem conseguir um pouco daquilo.
  Então a neblina cerrou, o vento se fez presente,coloquei as botas, a jaqueta e encarei o trampo afinal as contas não se pagavam com sonhos.
 Pra onde eles foram?
  Vou eu lá saber?


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Num janeiro distante.



Eu era novato no trabalho de modo que não entendia bem como aquela porra funcionava quando ela passou por mim.
Olhos coloridos, cabelos crespos e uma baita de uma bunda grande e sacolejante dentro do uniforme.
Se tinha uma coisa legal seria dar umas boas lambadas naquele traseiro, mas logo percebi que não era pro meu bico então, fiquei na minha esperando uma chance de fugir.
Veio o almoço e me mandei prum bar lá perto.
Sentei no fundo, pedi uma vodca com limão e uma cerveja enquanto aguardava o almoço chegar.
De repente ela entrou.Revelava aquilo tudo e não fazia questão de esconder.
Na sequência entrou outra, pareciam amigas, essa outra com uma lomba ainda maior.Diabo, Sol, cerveja e aquilo, era um panorama agradável das coisas.
Daí ferrou tudo.
Entraram dois caras velhos e carrancudos,um com uma panca de Durão, lábios cerrados branco e calvo.O outro era preto aparentava certa calma e cinismo no olhar.
Sentaram-se na mesma mesa que as duas garotas.
Sentia algo no ar, pernas por baixo da mesa, sorrisos grandes e festivos.
Os dois coroas estavam com uma cara boa.
Também porra? QUEM DIABOS NO MUNDO NÃO ESTARIA?
As duas se levantaram para ir ao banheiro.
Mulheres sempre vão ao banheiro juntas sei lá por quê.
Parecia que todos no bar as conheciam.
-Oi Kim.
-Oi Jean.
E assim seguiam as coisas.
Olhei pros coroas.Eram os bambas da parada.Considerei aquilo uma troca justa.
Experiência e consideração tendo em resposta jovialidade e beleza.
Comi meu prato, bebi minha cerveja e fui pra rua.
Acendi um cigarro e a de bunda enorme saiu.
-Hei! Novato! Tem isqueiro?
Estendi o isqueiro até ela.
Kim, uma pessoa popular.
Na sequência Jean saiu junto aos coroas.
Entraram os 4 num grande carro cinza, um esportivo bacana.
Fui até o emprego, estava atrasado.
Um cara grande com um bigode escova deu um grito, um moleque magrelo passou correndo.
Fui ao banheiro e olhei minha cara no espelho.
Era algo pavoroso, entre um pano de prato sujo e um tênis desamarrado, mas diabos, o que se poderia fazer né?.
Sai, o cara de bigode gritou é me mandaram subir e passar uma tarde infernal.
Kim, Jean e os coroas chegaram.
Tinham uma cara feliz.
Não sei dizer se fizeram naquela tarde, mas ao olhar aquele cara de bigode vindo em minha direção percebi que ao menos eu havia me fodido.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Taças Quebradas Não Guardam Vinho



 Tirei as botas, toquei os pés no chão e quase agradeci a Deus, se eu tivesse um, por esse pequeno momento de alívio.
 A recessão pós combate estava nos matando e, nessas alturas do campeonato, eu já me perguntava se realmente havia valido a pena ter lutado naquela porra.
 Lou Mcknee trabalhava comigo nesse tempo.
Gostava de Lou, ele tinha um carro movido à gás que nunca pegava nos dias de frio e estava sempre bolando uma forma de se alavancar na vida, não estava funcionando, mas ele não se abalava, não fumava, não bebia, o que eu considerava uma temeridade.Pra mim era impossível encarar o mundo 24hs por dia sóbrio.Tinha um hobbye que eu não curtia mas não condenava,cada um na sua.
 Lou sentou numa cadeira, abriu um envelope e vi sua cabeça desabar.
BANG!!
 Tipo um tiro de espingarda de dois canos, daí então levantou e vi seus olhos no escuro.
 - Cliff?
 - Fala cara.
 - Você tem como me arrumar um trago?
 - O QUÊ??!!
 - Um trago cara, realmente preciso disso agora.
 - Tudo bem.
 Abri minha bolsa e tirei dela um meio litro de Jack que sempre tinha comigo.
 Encontrei dois copos, servi e sentamo-nos frente à frente.
- Sabe Cliff...Porra...Cara...Eu nunca imaginei que fosse me pegar assim...Deus, meu Deus! É difícil cara...É difícil.
Estendeu a mão e me entregou o envelope.
Um convite de casamento.
Conhecia a garota de vista.
Era Katie Willians.
Acho que tinha falado com ela uma ou duas vezes na vida.Era pequena e bonita, um belo par de seios.
 - Você diz que calendário é besteira né Cliff?
- Sim. As vezes vivemos uma vida em um minuto, a intensidade dos atos é o que conta.
- Te entendo...Sabe cara...Te acho meio bêbado e maluco, mas nesse momento,você é a melhor companhia do mundo.
 - Aposto que sim.
 Olhei a foto de novo.Bem, não sabia que porra era aquela daquele tipo de sentimento.
As mulheres tinham passado por minha vida arrancando pedaços mas nada letal.
Pra ele havia sido.
Fui até a rua, entrei no bar.Peguei mais meio litro e voltei.
 Bebi com Lou até o Nascer do Sol.
Ele sentiu a garganta queimar, não pela bebida, mas pelo desfecho da história na qual ele não seria protagonista.
Katie, belos seios, não caberiam mais em suas mãos.
 Eu segui bebendo por que foi a única coisa que aprendi direito na vida.
O dia nasceu, empurrei seu carro e ele se foi.
Se não conformado, ao menos com um alívio.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

GHOST RIDER IN THE SKY

Sentou-se à mesa e de um só gole entornou toda a bebida que desceu-lhe pela garganta como fogo liquido. Daí então, teve paz para pedir uma cerveja e saboreá-la com certo prazer.
Era uma madrugada escaldante de um interminável janeiro.
Olhou a tela da tv e ali via-se a equipe do Phoenix Suns de 92.
Acendeu um cigarro, respirou a ar quente da noite. A lua seguia alta no céu cercada por parcas nuvens alaranjadas e infernais, VERDADEIRAMENTE INFERNAIS.
Chacoalhou os bolsos e viu algumas moedas.
Pagaria o bar por hoje, o amanhã sempre uma incógnita, sempre uma luta tremenda, sempre uma dureza, sempre quebrando pedras com as mãos.
Os olhos borrados e a face cansada fitavam a tv, as cadeiras empoeiradas e as moscas que voavam pelo escuro salão.
Ele já não era metade do que fora um dia.
A música tocava num looping infinito, um eterno “repeat” que só servia pra lhe ferir ainda mais e, não duvide que não fosse possível ocorrer.
Em outro lado, numa cidade vizinha ela entrou no quarto penteou os cabelos em frente ao espelho, colocou um leve vestido vermelho e depois foi à cozinha.
Não, não havia lembrança alguma em seus olhos.
Nem em suas mãos, ou pele.
Um programa mostrava lances de esporte que ela não conhecia bem, mas versava sobre um jogador, intenso e rude, bom, porém sempre derrotado em suas disputas.
Sem interesse, mudou o canal e foi à janela tentar respirar um pouco de ar fresco, o que era impossivel sob aquele escaldante calor.
Ligou o rádio e pôs-se a dançar timidamente em seu quarto.
Seus pés quicavam o soalho com se fosse feito de aço.
Não se achava boa nisso, mas naquele momento, estava feliz sem motivo e gostava daquela música.
De um modo ou de outro a fazia feliz.
Ele seguiu bebendo e o Phoenix perdendo e a música tocando.
Sentiu vontade de largar tudo. De largar o jogo, de mandar o mundo à merda e caminhar, mas sabia estar preso àquela realidade insana e confusa que fora toda a sua existência.
Foi ao  banheiro, lavou o rosto, mas mesmo a água lhe parecia quente demais, sua camisa suada e sua expressão cadavérica em nada lhe ajudavam, não mesmo.
Sabia que o dia nasceria e ele ainda estaria ali, e em outras ocasiões também estivera assim e estaria ainda mais vezes.
Ela enfim deitou-se e dormiu um pouco.
Era confortável o toque dos lençóis naquela madrugada.
Acordou pontual, banhou-se e desceu as escadas.
Andava leve como uma pluma, flutuava em pequenas bolhas de ar.
O sol despertara mais cedo que de costume.
Ele Levantou-se.Não estava bêbado com gostaria.
Entorpecido ele tinha um chance de esquecer um  pouco.
Pagou a conta e, entrou no carro e seguiu pela estrada.
À frente o Sol o cegava mas ele seguia.
Sabia que seria assim pra sempre e já não mais era capaz de lamentar o fato.
Pelo retrovisor ela viu o semblante de um homem alguns carros atrás.
Uma imagem desesperadora e horrível pra se ver num começo de domingo.
Algo morto habitava em seus olhos cinzentos e no rosto borrado.
Sinalizou, dobrou à direta e seguiu seu dia.
Ele seguiu em frente.
Seus olhos cinzentos e sua face alquebrada contra o Sol.
Perseguindo o que nunca alcançaria.
Seu cigarro, sua bebida e sua loucura por companhia.
O rebanho estaria sempre a sua frente, sempre e ele NUNCA  seria capaz de laçar nenhuma das cabeças.
Parou num auto posto e serviu-se de mais uma cerveja.
Não era cura, mas aliviava.
Viu um garoto entrando.
Olhou-o nos olhos e soube tudo em um só instante.
Era como ele fora e dificilmente não estaria junto dele num futuro próximo perseguindo seu rebanho.
Entrou no carro e seguiu rumo ao Sol.


sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Uma canção para Don

Donald Hester estava em caco quando pegou o telefone e ligou pra Blake numa manhã de sábado quente como o inferno.
 -Blake?
 -Fala cara. Como está?
 -Não tão bem quanto deveria, mas foda-se...Têm um tempo?
 -Tenho cara.
 -Ótimo, no Mud’s.
 -No Mud´s.
 Blake era um cara velho e confuso, meio lunático e biruta, mas tinha um coração grande.
 Um perdedor nato que continuava no jogo simplesmente por falta de opção.
 Blake entrou no carro e dirigiu até o Mud´s.estacionou do jeito que ele conseguiu e entrou.
 -Blake! tava sumido meu velho, como vai?
 -Indo Janine, tava mesmo, muita correria, ando cansado à beça.
 -Nem fala, eu tô detonada.
 Don entrou, bateu os sapatos e sorriu pra Janine.
 -Oi querida! manda um duplo pra mim e um com água pro Velho aqui.
 -Meio-a-meio Blake?
 -Meio-a-meio Jan.
 -E ai vida mansa? O que manda?
 -Cara, to numa tremenda fria.
 -E quem não está mano? Acho que desde que chegamos no mundo a gente tá numa fria.
 -Mas essa é pra valer.
 Janine trouxe os copos.Beberam, brindaram e seguiram o papo.
 A manhã seguia quente, os carros passavam como peixes num oceano e ali, dentro do bar,a vida era como um aquário, por um momento parecia seguro.
 -E é isso.
 -Cara, que bad Don...olha, eu nem sei por onde começar...Eu queria ter um problema desses, seria bom, bom mesmo, mas nessa altura do jogo eu nem sonho mais com uma coisa dessas. Só sei que é uma chance em um milhão, mas é um risco desgraçado...Muita merda pode voar e merda voando é um inferno daqueles e na nossa idade e estado acho que a gente não aguenta mais. De uma forma ou de outra, você consegue resolver esse galho, tem um monte de coisa ao teu favor na parada e por incrível que possa parecer, você tá num momento confortável.
 -Olha Blake...eu realmente to rezando pra isso cara...E é bom falar contigo.
 -Valeu Don. Agradeço o apreço. e como dizem, amar é tudo aquilo que dissemos que não seria. 
Blake foi até a Jukebox e colocou uma ficha.
 A música começou a tocar suave e limpa.
 Janine trouxe mais dois copos, acendeu um cigarro e ficou ouvindo a música junto.
 Paz, sabedoria, vitória e sucesso nem sempre se alcança, mas um bom momento num bar pode te dar um folego extra pra seguir na luta. 

Mesmo sabendo que você será derrotado por pontos no final.

 Mesmo sabendo que o fim da linha é num abismo escuro e frio.

 Mesmo sabendo que o Sol nasceu pra todos mas se escondeu de você.

 Ainda da pra sorrir um pouco e respirar.



 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Pedaços de lembranças molhadas por cerveja



Publicações aleatórias feitas no facebook


Dai você, que esta cansado pra burro para o carro na porta da escola e eles descem trepidando e rindo, chacoalhando os pequenos esqueletos de quase 5 anos de idade e começam a pular.
-Que é isso maninho?
-É rock pai!
-É muito legal esse rock.
-Como é que dança o rock?
-Áh,,,É assim que dança pai doidão.
E eles começam a sacudir e rir
as 7:00hs da manhã
E ai você vê que apesar da enxurrada de merda que lhe cai sobre a cabeça, ainda vale a pena seguir em frente e, que o bom gene musical sobrevivera a mais uma geração.
http://youtu.be/oHDaKtx6bGY



Nuvem
Eu sei que o fator tempo é algo fatal e irreversível.Sim, estamos envelhecendo e o tempo correndo louco à nossa frente, sempre nos empurrando pra esse abismo.
Concordo que vivemos por mera questão de estatística entre milhões, e de certa forma, esse fator temporal é o mais legal, aproveitemo-lo e vivamos conquistando amizades e fazendo pequenas vitórias que nos façam gigantes de miniatura.
Mas não sou eufêmico a ponto de achar tudo lindo e nem tão criança a ponto de saber tudo.
E a pulga, velha pulga me pega atrás da orelha nessa manhã fria em Sp.
Seria só o tempo?
Seriam só os cigarros e os desmandos da juventude cobrando seu imposto agora?
Por que desde 2009 tudo se acelerou tanto?
Por que a bala esta indo pra dentro da própria cabeça?
Por que aquele cara legal, tranquilão surtou de vez?
Por que tantas vezes, se repetindo, repetindo, repetindo e de novo, again?
por que a gente já aceita com tanta naturalidade?
Por que se tornou banal? Só mais um?
Por que será que quem foi, nunca voltou pra chorar, e nunca voltou lamentando?
Seria realmente fácil apostar tudo numa trama divina, os céus e pronto.
Seria fácil jogar no tempo...
Mas eu acho mais fácil se perguntar e ao responder ver que não é tão fácil assim.
E mais uma vez o telefone toca e é outro cara, escapa por pouco.
e outro que beira e ninguém sabe o por que e a escrita o salva, e diverte quem lê, mas no fundo é tudo mais do mesmo.
Desencano, fujo pro meu vídeo game e pro papel.
Mas será que fugirei pra sempre?
Será que não serei o próximo e será, será que quem pode e deve olhar um pouco vai parar pra ler e entender ou vai virar a página, dar de ombros e dizer que faz parte do jogo, jogo sujo que jogamos?
Sei lá, só sei que você também faz parte disso, quer queira ou quer não e se não pode salvar o bote que afunda, pelo menos não mande uma boia de tijolos.


Lembro que em 1986, logo que nos mudamos com a família do Ipiranga pra são bernardo do campo, tive uma tremenda dor de ouvido e meu pai levou-me ao ps da Vivaldi, o verdinho pra quem lembra, e lá chegando,após aguardar um tempão, fui informado pelo médico que ele não poderia sequer me examinar, pois não havia pilhas para colocar em seu aparelho de aferição auricular.
Lembro que após a devastadora sequência, plano verão, plano funaro e plano collor, as coisas ficaram economicamente pretas e meus pais foram obrigados a retirar-nos, eu e minha irmã, do colégio particular que ainda era no mesmo Ipiranga e fazia com que viéssemos espremidos no "Cata-osso",nosso patrimônio do transporte público da viação "Relaxo-grande" , eu com 9 e ela com 6 anos e nos matricular na rede pública, o que, confesso, trouxe-me um grande ganho em matéria de convívio social, porém, um inenarrável déficit educacional , e isso no começo dos anos 90.
E em 94, lembro de minha mãe chorosa no quarto, o cigarro pendurado na boca, o olhar cinzento, pois num hospital da nossa rede pública, minha afta foi pré-diagnosticada como câncer de boca.
Depois veio a conclusão do ensino médio e a falta de grana pra faculdade, bolsa, só cairê mesmo, coisa de velho.
E o tempo passou, e veio meu joelho quebrado, graças a Deus, porto seguro-intermédica e minha avó morreu, no corredor do central, isso mais ou menos em 2002.
E esse ano, quase 30 anos após todas essas desaventuras, vejo um monte de gente formada pelo prouni, indo às ruas reclamar por saúde, transporte e educação e colocando a culpa de todas essas faltas na copa.
Porra, já passaram,só do que eu me lembro e minha memória é fraca, 7 copas, sem ter nada disso e ninguém protestou merda nenhuma.
Então eu digo, não sou petista, mas também não sou ingrato.
A Dilma não é uma maravilha, mas o" Bolsonaro Kill"N" ALL" , O farináceo Neves, que é neto do melhor presidente que o Brasil já teve, só por que morreu sem fazer nada, não são soluções nenhuma e é válido lembrar que sempre da pra ir mais pra baixo do que se está.
Então, pare de ser hipócrita, se quiser pode me xingar, mas coloque sua camisa, pinte sua rua e grite gol!
Seja do Brasil, da Alemanha ou dos emirados árabes unidos.
E em outubro, pense bem e vote, a revolução está ai.
E se for pra quebrar, ser black block, tem um monte de médico faltando em hospital e recebendo pra isso e não toma lambada.
Dê uma carona pro seu amigo da facul ou do trampo e melhore o trafego de veículos.
Proteste contra a progressão continuada e peça pra que deem mais livros nas escolas públicas aos seus filhos ou irmãos mais novos



Sim, foi eu
Foi eu quem roubou seus cigarros, uns 22 anos atrás
Foi eu quem roubou a rigidez de seus seios muito antes disso
Foi eu quem roubou teu sono em frias madrugadas de um distante maio
Foi eu quem roubou teu sossego em tardes de sábado
Sim, foi eu
E você sempre me recebeu com sorriso de cinta e tamanco e conversa
Que sempre me aguardou com braços abertos de castigo e dever de casa
E é por isso que ainda estou de pé
E assim, envelhecemos e quanto mais o tempo passa, mais nossas idades se aproximam
Contrariando a matemática e a lógica
Pois amor de mãe, por mais que se conte, não tem quem entenda
FELIZ DIA DAS MÃES A TODAS AS MÂES





" Era uma estrada esburacada e poeirenta, Cassiano dirigia e ELE ia no banco da frente, eu estava atrás fumando meu cigarro.
Chegamos e ELE foi o primeiro a entrar na sala.
ELE chegou e elogiou o bolo de cenoura, ELE comentou sobre as ondas conosco.
ELE tava lá quando eu pedi uma são francisco depois de duas buds e uma velho co limão e ELE só na coca zero.
ELE me disse
-Você ainda aguenta velhão?
Eu ri fumando meu cigarro
E hoje não é Ele quem eu vou trombar de manhã e dizer -E ai negô? Firmão, Xeu corre que ta no hora.
Fico feroz com deus por essas paradas
Cria ótimos personagens como ele, coloca em tramas bacanas e fazem ser protagonistas de nossas novelas diárias , mas no fim, deus faz sempre o mesmo enredo.
Mas, faz parte do jogo
É um jogo sujo, mas temos que jog-alo.
Então, brotherAlan Alvorada não vou dizer adeus e sim um até um dia, a gente ainda se tromba, pois naquele dia, tu não bebeu e foi embora me devendo esse trago



Quando tudo se vai e não sobra nenhuma coisa pra ver em frente
Quando as coisas se tornam obscuras e cruéis e tudo não é nada além de uma utopia
A esperança é o que nos move
É ela que mantém as cordas firmes
E por menor que seja a chance
Temos que crer
Seja em deus, nos santos, orixás, bispos, daime, rosa-cruz, diabo, são Cipriano, cubos de açúcar, magia, sei lá
Então, é com minha fé nesse brother de casa caiçara e sangue espartano
Que eu me apego na esperança



E é assim, infelizmente é assim,
Há dois meses estávamos juntos, rindo, brincando, tomando uma gelada na hora do almoço e por um momento, por um breve momento, fugaz, parece que as coisas estão realmente sob controle e que você pode abraçar o mundo com suas mãos
Mas os ventos da mudança sopram de um forma estranha e por vezes trazem tempestade e dor.
Não sou hipócrita a ponto de dizer certas coisas.
Acho que minha idade me da o direito de expressar certos sentimentos como "Merda! tanto escroto no mundo ocupando espaço e um cara bacana que morre?!"
É claro que agora o que resta é curtir a dor, tomar um forte trago de uma bebida(pra mim funciona, mas não é regra) e torcer pra que seus tambores toquem lá no alto, no céu ou acima dele onde repousam os justos
Vai irmão
Pega esse avião e curta essa jornada que te aguarda
Enquanto ficamos por aqui
calados, chorosos, irados, e incrédulos


E na hora que eu peguei no teclado, entre um trabalho de escola e outro pra relaxar, pra escrever alguma coisa bacana a bomba vêm.
Cruel e intensa
Uma dor de verdade, aguda e sangrenta.
E minha garganta se fecha e meus olhos marejam
Era um cara legal, um dos poucos caras legais que se tem por ai
A violência insensata dos dias atuais, dessa vez me assustou
O tipo de coisa que você não quer acreditar, não da pra aceitar e que resta é acreditar numa esperança mesmo que insana, num deus que por vezes parece distante.


terça-feira, 10 de junho de 2014

FANTASMA!

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Ele acordou às 3:00 da manhã, assim, do nada, sem ter pesadelo ou coisa alguma, apenas acordou bestamente numa noite fria e besta qualquer como tantas outras que passara por sua vida.

Vida. Puta vida miserável que vinha tendo nos últimos tempos.
Uma porção de brigas estúpidas e sem sentido mas que vinham realmente lhe arrancando a carne dos ossos.
Ele estava cansado. Cansado da briga e do jogo e de certa forma cansado de viver tudo aquilo, todos os dias pela maioria das horas.
Foi até a cozinha, era um quarto e cozinha, pequeno e frio, mas era aconchegante.

Olhou a foto pendurada na porta e sorriu.
Aquela foto ainda era algo pra se apegar, às vezes, e pra ser honesto, na maioria delas, dava-lhe mais força que um Jesus pendurado na parede.
Serviu-se de uma dose dupla de seu Cutty Sark.
Ele sabia que tinha de estar no escritório na outra manhã e estaria.Dormiria, com sorte, umas duas horas de sono e depois enfrentaria o trânsito, a loucura, o chefe com cara de merda, a vida sem sentido algum. 

Lembrou-se de um rosto, de uma música e de um perfume.
Afastou-os da mente, mas eles não fugiam.
Seria bom tudo aquilo, poxa como seria, mas era um pedaço morto de um sonho desfeito, como tantos outros em sua trajetória.
Algo pra torturar de um jeito ou de outro, só pra machucar ferozmente quando, justamente, você não queria.
Estavam  entalhados em sua alma.
Fantasmas de promessas nunca cumpridas, tatuagens de fracassos eternos.
Mas era parte de uma vida pra qual ele morrera.
Olhou pela janela a noite fria, a lua encoberta por nuvens carregadas e sombrias. às vezes era assim, e talvez, fosse pra todo mundo de quando em vez, mas pra ele tinha sido demais, vezes demais, tempo demais.
Lembrou-se de pessoas, nomes e dias.
Pessoas para as quais ele não era nada além de um fantasma, morto e esquecido em algum canto e ele não tinha a menor vontade de assombrar.
Voltou à cama, tirou os chinelos e deitou-se.
Fitou o teto por alguns minutos e olhou as contas sobre a escrivaninha, em frente a tela do computador. 
Olhou pra baixo e viu seu corpo, velho e enrugado,os dentes em petição de miséria e o lençol rasgado e costurado uma centena de vezes. Olhou pra cozinha, ali na porta a foto, uma coisa pra seguir em frente.
Era uma última esperança, uma última cartada num jogo que ele vinha perdendo há tempos.
Era uma tábua de salvação em meio a um naufrágio, algo que traria um fantasma de volta à vida, não pra assombrar mas, pra viver e morrer, agora em paz, dessa vez em paz.
E, como que numa prece, ouviu uma canção não tão melodiosa, mas que naquela hora fazia todo sentido.





 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Bate-Papo

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 Ela sentou-se à mesa do bar e serviu-se de um café.
 Acendeu um cigarro assim que deu o primeiro gole.
-O meu é bem melhor. Disse de si pra si.
 Sua amiga chegou esbaforida e esfuziante como de costume.
 -Olá amiga! Como está?
-To ótima querida ótima mesmo.
-E ai? Resolveu seu “problema”?
-Claro! Ele está ali. Como eu disse, ele ficará. Ele TEM que ficar.
 A amiga olhou pra direção apontada. Não conteve o espanto.
-Assim? Ele vai ficar assim?
 -Vai e não dou a mínima. Eu to numa boa, o problema é dele.
-Sei, mas...Sei lá...Ele parece tão...Tão...Desalmado.
-E está. Não resta mais NADA de alma, ou vida, ou sonho, ou alegria nele. É apenas um robô. Servindo-me aos propósitos é o que me importa.
 -Tudo bem, até entendo seu lado, mas poxa...Ele até era legal.
-Pode até ser pra você. Mas pra mim...Aqueles textinhos horríveis, sentido-se o próprio “cara” E as músicas? Meu deus! Insuportáveis.
-Não gostava das músicas, alias, nunca nem ouvi pra ser honesta. Mas e de resto?
-Ele trabalha, trabalha como um burro. Segura as pontas, é lógico que é um fracassado em tudo, mal faz o arroz com feijão, mas sei que se complicar, ele sai e arruma mais um emprego. Que trabalhe, que se dane, que morra trabalhando, mas..Espera um pouco. Mexeu alguma coisa no celular.
Devia ser um desses apps modernos, os tais androids...
-Nossa como ele é feio amiga!
 -Mas se ele é feio assim, por que tanta questão de ficar com isso?
-Você acha que é fácil encontrar um babaca desses, pra segurar a onda. Eu não trabalho, não estudo, não arrumo a casa e ele ta lá e ainda por cima, consigo com alguns truques deixa-lo à mercê do que preciso. Concordo, não tem luxo, mas não tem perrengue e me é cômodo. Leva as crianças pra escola, busca da escola, lava louça, só falta aprender a cozinhar. Mas eu to dando um jeito de arrumar isso.
-Mas ele fala?
-Resmunga um pouco, mas nem dou ouvidos. Ele que se dane.Eu sei o que eu passei.
-Mas será que passou mesmo?
-Passei e passei! E ele tem que pagar tem que sofrer.
-Mas você também não sofre com isso?
-Sofrer até sofro, mas você é louca de pensar em sofrer num ônibus lotado? Um chefe? Uma conta pra pagar? Isso é sofrer e desse mau eu não sofro.
-É...Isso é mesmo uma boa.
Ele ficou ali parado.
Não trazia nenhuma expressão em seu rosto, em seus lábios.
Seus olhos eram de um cinza desbotado e moribundo.
Então se levantou e foi cuidar dos afazeres.
Errara e agora pagava com a alma seu preço.
Não pensava em justiça.
Não pensava em sorriso, nem vingança.
Tinha um dever e o cumpria.
Mesmo que sua alma fosse apenas pó.




sábado, 28 de dezembro de 2013

SALUTE! (WHO CARES? MY LIFE IS OVER ANYWAY)

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Sentei-me à mesa mais escura e fodida daquele bar fétido e imundo.
Pedi um Gt e me sentei pra beberica-lo.Olhei minhas mãos. Estavam trêmulas e não era por falta de álcool, o que tornava as coisas ainda mais assustadoras.
Vi quando ele entrou. Passou pelo balcão, não sorriu pra ninguém e veio direto ao meu encontro.
-E ai Cliff? Como está cara?
-Você sabe como eu to Blake. Pergunta estúpida!
-É, foi mesmo, mas e ai acha que da pra aguentar?
-É como eu disse, você sobrevive, mas não supera. É tipo uma cicatriz funda e mórbida. Indelével.
-Imagino. Gostaria de poder fazer alguma coisa.
-Me paga um drink. Não ajuda, mas economiza.
-Esse é grilo destas questões. Nunca ninguém pode fazer nada por você nessas horas.
-É mesmo, mas de certa forma é minha culpa.Acho que os Deuses se zangaram comigo. Eu sempre avacalhei e eles me pegaram pelo rabo direitinho dessa vez. Minha alma me corrói de um lado e o coração de outro. É como uma virgem sendo currada por dois estupradores nigerianos.
-Enquanto você conseguir fazer troça da própria desgraça ainda tem uma chance.
-Chance não, mas mantém em pé. É claro, virão bons textos, mas eu odeio esses meus textos. Eles são ótimos, mas sempre vêm de algum baque. Se for por força do baque, eu vou pra academia brasileira de letras.
-Foi tão assim mesmo Cliff?
-Foi cara, foi mesmo. Era o Sol e Lua num só momento cara, mar, arco-iris, cavalo em campina, pele bronzeada em tarde de inverno.
-Todas as coisas...
-...Mais encantadoras do Mundo.
-É...
-É...
Era uma noite de tempo ameno, um vento suave soprava do leste e a bebida descia cortando a garganta como uma lâmina afiada por Hanzo.
Tinha que ser assim.
A noite foi passando e continuamos bebendo.
É claro que eu estava fugindo da realidade, mas diabos, quem não estava? Quem queria encarar a dor da perda? Quem queria ver a derrota assim, em frente aos olhos nus? Quem queria ver seus sonhos indo embora pelo ralo? Porra, acho que ninguém!
O dia nasceu e eu ainda estava lá bebendo. Eu e o Blake, Blake e eu. Inseparáveis, na derrota e na vitória. Pena que a vitória era rara, rara...
Depois fui andando até minha casa. No caminho passei por um hotel horrível, tão feio quanto á minha cara. Vi um sujeito conhecido entrando nele, Arnie, ele era uma boa pessoa e pela cara dele o mundo se fecharia sobre sua cabeça àquela hora.
Então, antes de tentar deitar tomei mais um gole.
Por mim.
Por Blake.
Por Arnie.
Por todos que viram a alma se dilacerar de forma irreparável.
Por todos que perderam algo insubstituível.
Por todos os náufragos de ambições.
Por todos os fracassados e por todas as almas que nadam pelo Styx.
                 Salute!
Título baseado na música "Give me a coma" do Chocolate Diesel



quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

ARNIE

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Arnie estava dirigindo numa noite de outubro de um dia que ele nunca se lembrará da data, mas que pra ele sempre seria como se fosse hoje, ou melhor, agora pouco.
Olhou pro banco do carona e viu um negocinho ali.
Pegou-o nas mãos, cheirou, olhou e resolveu para num bar pra examinar melhor.
Pediu um gim tônica e sentou-se numa mesa escura, lá no fundo do ambiente.
Sempre gostara da solidão, da escuridão e do isolamento.
Então olhou o embrulho e desfez os nós que o amarravam um a um.
-Puta, mas que porra!
Sempre fora um boca-suja.
Ai viu o que estava dentro daquele saquinho.
-Mas que caralho seria isso?
Era quente e macio como uma noite de sono tranquila. Tinha o cheiro da chegada da primavera, o charme das manhãs frias e claras de outono.
Tinha mais encanto que cavalos correndo numa campina, mais brilho que uma supernova e mais melodia que solo do J mascis.
Arnie simplesmente não sabia oque era aquilo.
Não sabia se o comia se guardava no bolso, ou se simplesmente saia andando com aquilo nas mãos.
Olhou no fundo do embrulho e encontrou um bilhete muito dobrado.
“Querido Arnie, isso se chama felicidade.
Creio que você não saiba exatamente o que é isso.
Bem, desse tipo eu tenho CERTEZA que você nunca soube.
Acho que você nunca soube, talvez por medo, talvez por loucura demais, sei lá
Bom de qualquer maneira ai está.
Saiba que isso acaba e quando acabar vai sobrar aquilo que você conhecesse bem
Muito bem
As paredes se fechando e o teto descendo sem sentido e cruel sobre sua cabeça velha e fodida.
Essa dose de felicidade é uma dose cavalar, pois nela concentrei TUDO que você pensou a sua vida inteira ser impossível, conceber em uma só coisa, portanto, quando acabar as paredes se fecharão mais apertadas do que nunca e o teto descera ainda mais rápido que de costume.
É claro que você não poderia ficar com essa felicidade só pra você.
Uma por que você é você e outra por que é assim que é.
Mas desejo sinceramente que você aproveite INTENSAMENTE cada momento que isso lhe trouxer e depois não se culpe nem se lamente, pois você sabia que acabaria.
Agora é com você, seu cachorro velho.
Assinado: “DEUS”
Arnie tomou um gole do Gt e depois pediu mais um.
Duplo dessa vez.
E emborcou também de um só gole e depois pegou o embrulho nas mãos e colocou-o no bolso do paletó. Aquele bolso no peito.
 E dai saiu pra rua.
Viu um cachorro vagabundo se lambendo de uma forma estranha.

E então ele sorriu.




quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Um passeio Nas Águas do Styx

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Como um corpo que cai
Inerte e sombrio
num Abismo escuro e sem pára-quedas
É você indo ao desfiladeiro agora
É o espírito se chocando contra rochas
É alma se partindo em pedaços
Que não mais se colarão
E depois o baque
Bum!
Silêncio
O som das águas é do Styx
E a dor que corre pelos ossos partidos
É lancinante e queima o resto de humanidade que restara
E dos cacos que sobraram ergue-se a figura
De carne, esparadrapo e superbonder
Examinando-se no espelho destas águas ruidosas
Que só trazem gritos de derrota
A figura vê suas mãos
Que um dia foram belas
E agora não passam de varetas murchas
E com elas ele começa a traçar a rota
De desespero e angústia que o aguarda
Não de volta à vida, pois ela não lhe é mais bem-vinda
Mas o caminho do seguimento, em busca da vaga no inferno que lhe fora negada





terça-feira, 10 de dezembro de 2013

EU CONTRA A NOITE




















Um som de harpa, um torpedo
Weidman acertando um cruzado na aranha
Cristo ligando pro pai de um celular pré-pago e com a ligação sem sinal
É um balde cheio d'água e Raymond ficando nas sombras
Sou eu contra a noite
E os joelhos se dobram
E a alma se arrasta moribunda
E a rocha fendida se quebrando em um milhão de pedaços
Cinzas
Rotos
Sangrentos
E as paredes se fechando como prensas
E as nuvens trazendo tempestade e tornado
Buster Douglas mandando o aço pra fornalha
E o descrédito te levando a loucura
Declínio e queda
E agora sou eu e o copo
Dois contra o mundo
Mas agora ele é diferente, maior e têm cores
Rosas
Azuis
E degradê do negro ao dourado
E o que disseram por propaganda enganosa fez confusão
E eu perdido dentro de meu próprio eixo
E toda a construção e entrega se desfazendo em pó
Declínio e queda
Eu contra a noite
E ela me trazendo uma dor desconhecida e brutal

E os joelhos dobrados, e a loucura feroz e a espuma do copo
Só fazem a dor te tocar com mais intimidade.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

SOL NASCENTE

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(Satélite parte II)


-Será que ELE está assistindo?
-Acho que sim. ELE disse que ia ficar de olho.
-Nossa. ELE deve estar mau.
-Eu avisei pra ELE que isso era bem possível de acontecer. Eles não sabem lidar com essas coisas.
-Você carregou demais Venny. Colocou tudo numa dose muito alta.
-Não! Eu fiz como ELE me pediu Shaun.
ELE abriu a porta e chamou-as.
-Venny e Shaun. Parem de bisbilhotar e fuxicar como loucas e venham aqui comigo.
-Sim chefe.
Venny olhou pra ELE. ELE estava com um semblante meio caído. Tipo um garoto quando ganha um brinquedo diferente e inferior ao que tinha pedido de presente.
-Veja Venny. Eu acho que fiz tudo certo. Sabia que a chance disso acontecer era grande, mas eu realmente apostei.
-Não fica assim chefe. Você sabe como é.
-Sei. O mais engraçado disso tudo é que EU sei como é.
-Mas e agora chefe? Como é que fica.
-Escuta Shaun... Bem, quando eu criei esta parte eu sabia o que estava fazendo. Pedi pra você Venny dar tudo em doses muito altas e você fez um trabalho maravilhoso tão bom quanto você mesma e até mesmo você concordou.
-Vocês me avisaram sobre esses riscos é bem verdade e eu sabia deles. Mas quando eu crio uma estrela, EU crio uma estrela e pronto. Ela tem que brilhar e vai brilhar ainda durante muito tempo. Está muito longe de sua luz se extinguir e mesmo quando extinguir o facho de luz que fica ainda dura muito tempo.
-E quanto ao resto?
-Bom o resto é o resto embora aquele sacana me surpreendeu. Ele manteve a dignidade e até certa polidez... Não digo que eu o quero aqui no final das contas, mas ele ganhou um pouco mais do meu respeito. Sabe, ele encontrou algumas coisas que ele não sabia que tinha. É claro que ele é como é e o que eu gosto nele é que ele não reclama e nem esconde. E isso o fez ser duro como uma rocha. Agora eu não sei como ele vai fazer, sem a sua carapaça, sem seu casco de tartaruga que o envolve.
-Venny, pegue aquela fita pra mim.
Venny pegou e deu nas mãos DELE.
-Poxa chefe, isso é sacanagem.
-Eu gosto de brincar Venny, você sabe disso.
Lá embaixo uma pequena figura bebia seu vinho de uma forma que conhecia bem, mas que dessa vez tinha um gosto diferente de todas as outras vezes.
-Porra! Sacanagem!
A figura olhou pro céu e sabia que isso era uma típica piada de mau gosto, mas não lamentou.
Então a figura envelhecida e bruta resolveu se pronunciar.
-Bem cara, eu sei que você esta ai em cima rindo um bocado e acho que você tem direito. Mas sabe meu chapa... Dessa vez você realmente me acertou forte, e ainda deu risada... Tudo bem, eu mereço... Mas escute aqui, eu não vou me entregar assim tão fácil. Não sei se quem me fez foi você ou o outro e pra mim pouco importa agora, mas eu te garanto uma coisa meu velho. Eu cumpro o que prometo, nisso eu sou bem, e me dê um tempinho, só te peço um tempinho pra me levantar, não encerre a contagem agora, me dê mais um fôlego e ai você verá o que é um cachorro velho e mordido brigando pra valer.
Lá em cima ELE ria. Aquela figurinha era mesmo uma casca grossa.
-Você acha que ele esta falando sério chefe?
-Sinceramente sim.
-Uau! Esse vagabundo tem Culhões mesmo hein?
-Tem, isso ele tem.
Então, ELE e as duas viram as explosões de cor e luz brilhando na noite, confusas, terríveis e catárticas.
Mas cientes que os tons se encaixariam em harmonia simétrica novamente.

Por que por mais escura que a noite seja
No outro dia o Sol vai nascer.



terça-feira, 19 de novembro de 2013

SATÉLITE

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ELE calçou os chinelos, pegou os materiais e vestiu uma camisa da seleção de 82, a numero 8 do doutor e foi pra praia.
Colocou-se diante do mar, contemplou-o e depois começou a trabalhar na tela com esmero. Estava inspirado, muito inspirado, mas queria atingir a perfeição.
A noite caiu e sob as estrelas ELE continuou trabalhando duro. Acerta daqui, mexe dali, apaga isso, coloca aquilo, não, não, não, agora sim!
Ligou o radio e sintonizou na parada da bilboard. Gostava daquela música, ainda seria um sucesso daqui a 30 anos.
Então se levantou e olhou o que tinha criado. Ficou feliz, tinha conseguido fazer sua parte, tinha alcançado seu objetivo, fizera com esmero, com paciência, com suor.
Assinou a tela com sangue pra que tivesse ainda mais dele mesmo naquilo e então, com a fogueira acessa dançou afundando seus pés na areia.
Na outra manhã despertou eufórico e chegou ao trabalho sorridente.
-Bom dia chefe!
-Bom dia rapazes!
-Nossa como ELE está contente!
-É mesmo! ELE quase sempre tá de boa, mas hoje ele está com uma cara daquelas.
Entrou em sua sala, tirou o pano que cobria a tela, examinou-a mais uma vez e então foi ao corredor.
-Chamem a Venny e Shaun, por favor.
-Sim chefe.
Elas entraram na sala. Venny era linda, uma verdadeira Deusa, e Shaun era esperta e tinha mesmo uma boa bossa.
-Bom dia chefe. O que manda?
-Chamei vocês duas aqui por que preciso de uma ajuda. Deem uma olhada e me digam o que acham.
-Uau chefe! O senhor caprichou mesmo hein?  Tá quase melhor que eu mesma?
-Obrigado Venny! Eu acho que tá igual, pra não dizer melhor.
-Sensacional Chefe, sensacional, mas o que o senhor vai fazer com isso?
-Vou chamar os meninos e mandar entregar.
-Chefe, me desculpe, mas o senhor tá maluco? Você sabe melhor que ninguém a dor de cabeça que isso causaria.
-Talvez agora seja diferente.
-Nunca é diferente. Eles não sabem lidar com essas coisas.
-Por isso você tá aqui Shaun. Você tem esperteza suficiente pra deixar esse projeto funcionando sem que se torne um caos. Juntei umas coisas do Herman e do Aby também, talvez isso facilite.
-Chefe, eu sei mexer com projetos, mas nada desse tamanho. Isso é incrível. Olha a cara da Venny, ela mesma se rendeu e ela nunca se rende.
-Eu sei, eu sei. Caprichei mesmo, queria que fosse assim. Agora Venny, arte-finalize pra mim, preciso do teu toque nisso, preciso da tua benção.
-Com tudo chefe?
-Tudo. E quero em doses altas, o fogo, a calma e o brilho.
-Tudo bem... Chefe, você sabe que quando faz dessas coisas eu me irrito um pouco. Mas dessa vez, nossa, tá tão perfeito que eu fico feliz e temerosa ao mesmo tempo. Tem o melhor de você ai, você ASSINOU COM SANGUE!
Então os 3 trabalharam até que ficasse perfeito. Colocaram tudo no lugar e se deram por satisfeitos.
As duas saíram da sala e ELE chamou novamente.
- Chamem o Brooke e o Cassidy.
Os dois estavam sentados vendo tv quando os chamaram.
-Levanta o rabo dai Cass! Tem trampo hoje.
-Opa! Deixe eu me vestir. Fazia tempo que eu não fazia nada.
-É o lado ruim desse trampo é isso. Você só trabalha de vez em quando.
-Mas isso que é o bom Brooke. O chefe quando manda só manda coisa boa e confia na gente pra levar.
-Isso é bem verdade.
Entraram na sala e receberam as instruções.
Era começo de outono e o tempo estava bom. Pegaram a entrega e ainda comentaram.
-Porra chefe! Detonou hein?
-Obrigado filho.
Então desceram e fizeram a entrega. Essa era a parte boa do trabalho.
E ainda receberam uma folga pra assistir aos jogos no outro lado.
E viram o espirito humano ser levado ao extremo.
Seres admiráveis mesmo esses homens.
Embora aquela águia estupida fosse um insulto aos olhos.
Lá em cima ELE observa a sua criação.
Sabia quanta loucura aquilo provocaria, passaria e sentiria.
Mas sabia também, e por isso se alegrava, em ver o quanto aquele satélite móvel iluminava o mundo.



quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Bartterfly

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Clive estava bebendo uma noite dessas, uma noite dessas bestas de verão.
Clive não gostava muito do calor. Ele era grande e pesado e sentia-se cansado com tudo aquilo.
As pessoas todas insanas, talvez pelo calor, os tempos modernos, o desespero de ser “curtido” de ser legal, de serem aceitos.
Ele estava sentado lá no fundo do bar quando ELA entrou.
Às vezes, só às vezes, os almoxarifes do céu descem á terra e agraciam alguém com toda a graça que é possível conceber a uma mortal.
ELA era uma dessas agraciadas.
O bar estava cheio, risadas, vozes, gritos, mas o silêncio DELA cortava o ar e era mais emblemático que tudo o que estava ao seu redor.
Sentou-se solitária à mesa, num canto.
Da sacola que trazia via-se a capa de um exemplar raro de “A garota mais linda da galáxia” um livro de poemas que Clive achava muito bom. Não eram grandes poemas é bem verdade, mas continham uma verdade tão intensa que era impossível não gostar deles. Eram poemas de um homem desesperado, arriscando tudo na escrita.
Clive gostava de gente que escrevia assim.
ELA levantou-se para ir ao balcão pegar uma bebida.
O cabelo corria grande e negro pelas costas. O corpo era bonito, não era extravagante, mas simétrico e sensual, uma bundinha pequena e muito bem desenhada..
ELA era forma e conteúdo.
Giant e Hooper numa só tela.
ELA foi até a Jukebox e colocou uma ficha.
O disco caiu no prato e começou a tocar.
Dançou quase que imóvel, mas cada movimento era um flash de luz, um relâmpago no escuro.
Quase todos no bar de uma forma ou de outra a olhavam.
Desejavam ardentemente sua carne.
Clive também, mas tinha algo a mais e era isso que o atraia.
Era carne e alma, fogo e razão, duvida e certeza.
Havia um mistério, uma magia e muita loucura naquele fogo.
Ao virar-se os olhos dela cruzaram os de Clive.
ELA olhou BEM dentro dos olhos dele.
Os olhos DELA grandes e brilhantes penetraram as fendas pelas quais Clive via o mundo.
ELA viu dentro deles.
Viu tudo. Loucura, medo, frustrações, alguma sabedoria, tristeza, mas principalmente loucura e medo.
Então ELA sorriu e saiu pela porta.
A noite se enfeitou de joias enquanto ela partia deixando para trás um degrade em rosa, branco e azul bebê.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Colcha de Retalhos

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Venha sob a lua azul me levar
Olá falcão! Venha me pegar.
Pois ninguém me corta em silêncio como você me corta 
E eu sei que é destino correndo contra mim
E irei rastejar não que isso importe
mas ninguém sangra do jeito que eu sangro.
Então, olá falcão! 
Quando vi a sua sombra, soube que era você derrubando o anoitecer.
E em seus lábios, um mundo mágico um mundo folheado em ouro.
Olá falcão! Venha me pegar.
Acenando no vento suas penas
Pra me pegar, me roubar, me matar
E ainda assim, engatinharei até você como todos os outros.
Contra minha vontade
Mas me entrego a ela pro que der e vier.
E nessa hora mortal.
Nem o vento, nem a chuva, nem uma conversa
Trar-me-ão de volta vivo.
Mas ainda assim, me entrego a esse destino
Pro que der e vier.

"E de pedaços de velhas canções
Te entrego palavras
Sensações
E um sonho sonhado numa noite fria."



terça-feira, 5 de novembro de 2013

Cenas de um Amor Mequetrefe.

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Blake subiu as escadas, abriu a porta entrou em casa e sentou-se no sofá.
Percebeu uma bagana da noite anterior ali, como que o chamando pra mais um volta.
Acendeu-a e começou a ouvir os gritos vindo andar de baixo.
-Sasha! SASHA! Pelo amor de deus mulher, abre essa porta!
-Some daqui Al! Eu não aguento mais!
-Por favor, mulher! Por Deus mulher! Abre essa porta.
A vizinhança começou a se projetar, era por volta do meio- dia fazia um frio danado e a temporada 2013 de futebol estava chegando ao fim.
-PARA COM ESSA GRITARIA SEU VIADO!
-CORNO FILHO DA PUTA!
-EU ESTOU VENDO TV! SERÁ QUE NINGUÉM MAIS PODE VIVER EM PAZ?
A tv sempre a tv.A mais importante companheira das donas de casa do mundo inteiro, trazendo sempre seus romances arrebatadores entre homens lindos e mulheres fantásticas.
Blake olhou pela janela, enquanto soltava a fumaça pelas narinas.
Simpatizava com o garoto, o lembrava quando mais jovem, apenas mais magro.
Ela era um problema realmente. Tinha olhos furiosos, mas um corpo que era o próprio demônio na face da terra. Um enlouquecedor par de coxas e seios vulcânicos que pareciam sempre querer arrebentar o tecido da blusa.
Pobre garoto. Ele devia saber que mulheres assim eram tudo o que um homem precisava para ir pro inferno. Devia saber que ela o destruiria e que agora, por mais que ele gritasse e uivasse como um cão raivoso, era à toa.
Ela provavelmente destruiria outro cara qualquer no futuro e deve ter destruído mais alguns no passado, e Blake ficou feliz por não ser um desses.
De repente foi a velha cena clichê.
As roupas voando pela janela.
Cuecas, camisas de time. Olha! Não sabia que ele torcia pro alvinegro praiano, e voavam as toalhas, as meias e por ai vai.
Não era uma cena bonita, não mesmo.
Chegava a ser vergonhoso tudo aquilo, mas naquele momento Blake sentiu uma tremenda pena do rapaz e de todos os corações partidos pela terra.
Todo mundo uma vez na vida que fosse teria o coração partido e nesse jogo louco de machucar e se ferir teciam-se as histórias de amor da vida.
Blake nunca foi de cenas, mas as pessoas tinham direito a seus momentos.
Blake acabou de fumar, foi pro quarto, deitou-se nu e olhou o teto.
Já machucara e se machucara uma centena de vezes na vida e gostaria de não ter alma alguma pra sentir.
Tomara que a do garoto fosse estúpida ou forte o suficiente pra esquecer ou seguir em frente.
Tomara.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

MILITANDO EM MILILITROS

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Entrei no carro, liguei o rádio e comecei a andar. É claro que de uma forma ou de outra achava que aquilo não fazia o menor sentido, mas Ora bolas! Que vá tudo à merda!
O dia estava claro e com uma temperatura amena e sentia que o Sol me alimentava a alma naquele momento.
Cheguei ao local marcado, estacionei o carro, desci a rua e entrei no saguão do prédio.
Eles estavam a minha espera, Carl, Geena, e Perks, quem eu não via a muito tempo.
-Oi, Geena!
-Fala Cliff! Você vai ao banco antes?
-Sim, depois que tal biritarmos um pouco?
-Cliff seu pinguço! A reunião é lá em cima. Temos que ir pra lá.
-Não sei. Pra mim o melhor a fazer é ficar tomando umas e esperar o resultado como quem espera a morte.
-Vá ao banco depois a gente vê isso.
Fui ao banco, paguei contas, parcelei contas e vi a cara da morte no meu extrato bancário.
De um lado a pressão arterial, o estômago com problemas, a miopia aumentando e o joelho que nunca ficava bom, de outro as dívidas e a eterna falta de grana atacando todos os meus flancos como uma falange espartana.
Entramos no prédio, subimos pelo elevador por 10 longos andares, enquanto observava no espelho minha velha pança lotada de cerveja e vida desenfreada.
Chegamos ao local e fomos recebidos por um cara com cara de vassoura que não nos deixou participar da tal reunião.
Quando a porta se abriu, pude ver de relance QUEM estava lá dentro e comecei a sentir um tremendo cheiro de merda predizendo o que sairia de lá.
Ficamos aguardando o elevador e eu olhava pela janela. Devíamos estar a uns 80 metros de altura.
A cidade e as pessoas assim, em miniatura até pareciam boas.
Descemos e ao sair, sem ter conseguido entrar na reunião, convenci o pessoal a ir até o bar mais próximo pra beber um pouco.
Eu era mesmo má influência, despertava más tendências.
Fomos até um bar onde se podia fumar enquanto bebia coisa rara atualmente e lá acabamos encontrando um monte de gente que estava ligada naquela onda.
Nunca tive uma posição favorável às massas, ainda mais em bares, mas nunca fui esnobe, então juntamo-nos ao resto do bando de gente que estava esperançosa quanto à tudo aquilo.
Uma parte do pessoal estava enlouquecido, bolando planos extremamente absurdos, outra parte estava furiosa, querendo explodir bombas e mais um monte de coisas.
Eu sinceramente estava indiferente.
Fiquei bebendo meu “sour “como um louco, como sempre bebi. Bebendo e bebendo sob o Sol.
Militando apenas com meus mililitros etílicos que me deixavam felizes o suficiente porá encarar os problemas.
Não estava dando à mínima nem pros loucos, nem pros enfurecidos.
Vez por outra soltava uma frase qualquer pra participar da conversa, mas sinceramente não me importava. Sabia que os sonhos não se concretizavam assim tão facilmente sem uma estratégia bem formada e que só vontade sem razão não levava ninguém a lugar nenhum.
Por fim, Big Bull Clint chegou trazendo os resultados.
É claro que não tinha dado nada certo.
É claro que os enfurecidos estavam ainda mais putos e os enlouquecidos ainda mais furiosos.
E é claro que eu segui bebendo o quanto pude até ser enforcado pelo trabalho, pelas contas e por tudo que nos cerca mais uma vez


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CRIAÇÃO

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Quando Deus criou o amor, ele estava em dúvida
Quando Deus criou a bebedeira, ele precisava, queria e merecia um trago.
Quando Deus criou VOCÊ, ele contemplava o infinito mar de diamante.

Quando Deus Criou as pulgas, ele estava com raiva de alguém
Quando Deus criou a arma, ele estava deprimido
Quando Deus criou VOCÊ, ele estava olhando as estrelas

Quando Deus criou a música, ele sabia que isso iria salvar alguns
Quando Deus criou a mim, ele lamentou até o fim
Quando Deus criou VOCÊ, ele dançou sob o fogo

E da duvida veio a brecha que dava vaga pra bebedeira , pra felicidade que traz lágrimas e sensações conflitivas e que é boa mesmo assim
E da raiva veio o medo, a angustia, a fé insana mesmo sabendo que de algum modo  tudo chega ao fim
E da loucura veio o dane-se pra tudo e o seguir em frente andando mesmo que seja a esmo.

Mas no mar de diamantes dançando sob o fogo ele criou VOCÊ e derramou sobre o universo a melhor porção Dele mesmo



segunda-feira, 28 de outubro de 2013

RETRATO

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Ele entrou em casa, descalçou as botas, tirou as chaves do bolso, pendurou-as no chaveiro e foi à cozinha.

ESTAVA TUDO COMO DE COSTUME.

Um caos quase que obsceno, assassino, surreal.
Randall então foi até a pia e salvou um copo naufrago em meio ao tsunami de louça que se projetava a sua frente, lavou-o e serviu-se de uma dose de whiskey.
Viu de relance sua imagem refletida no copo.
Brutal e dilacerada pelo tempo, pela loucura, por todos os problemas que, de certa forma ele mesmo causara a si.
Não tinha quem culpar a não ser ele mesmo.
A vida é feita de escolhas e ele fizera algumas erradas.
Bem erradas.
Ele sabia que estava encrencado, destruído e com uma porcentagem bem pequena de chance de virada e estava longe de estar morto o que, naquele instante, sob a luz empoeirada da lâmpada da cozinha não pareceu ser lá muito vantajoso.
Então, acendeu um cigarro e ao soprar a fumaça percebeu o retrato na sala.
Gostaria de ser um escritor pra descrever a sensação em palavras.
Sempre admirou os escritores. Eram capazes de definir as sensações de uma forma diferente do usual, com magia e beleza.
Gostaria de dizer algo como “O tempo, a felicidade e de certa forma a vida, presa num distante instante e uma esperança ignóbil de que tudo volte a ser como era Uma pessoa tem direito a sonhos, mas quando eles são loucos demais é melhor acordar", gostaria de tocar uma música que mostrasse em acordes o que ele sentia, mas ele não sabia fazer nada disso.
Ouviu o som da tv e sentiu inveja daquela calmaria, daquela alienação feliz e insana, daquela insensatez festiva e mórbida.
Sabia que não poderia voltar pra dentro daquele momento.
Sabia que ele jazia morto num lugar distante do passado e NADA o traria de volta e que cada tentativa, soava ainda mais desastrosa e fútil.
Voltou pra cozinha, serviu-se de mais uma dose, imergindo na fumaça do cigarro enquanto o retrato guardava seu sonho, louco demais e incapaz de ser acordado.





sexta-feira, 25 de outubro de 2013

POESIAS ESCRITAS EM SEMAFOROS FECHADOS

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No carro, no trânsito homicida e brutal
No meio do centro, entre os prédios cinzas e paredes de cobalto
Na fumaça do cigarro que baila misteriosa
Emergindo flamejante em seu costume marcial

 EU VEJO VOCÊ


No sorriso embalado pela bebida que destila as mazelas
Nas mãos dos pintores eternizadas em suas telas
Nas canções gritadas parcas de técnica e cheias de emoção
Em filas de supermercado, eu, velho, abjeto e sem nenhuma razão

 EU OUÇO VOCÊ

Sem querer te guardar
Sem querer te prender
Sem conseguir te definir
Sensível demais pra tentar entender

EU SINTO VOCÊ

E é o que me basta pra seguir
E é o que faz esse rabugento sorrir
E é o que me faz querer queimar em seu fogo

Pra que ele me consuma, me mate e me enlouqueça
Pra que ele dure até se extinguir, não importe o que aconteça.







terça-feira, 15 de outubro de 2013

MEU PÁSSARO CINZA

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Meu Pássaro  é cinza

Soltei meu pássaro cinza
Pra voar pela sala
Numa manhã de sábado.
Em frentes aos guris
Que riram com ele
Que se assustaram com sua pequenez
E ele ficou feliz por ver essa gente
Pela primeira vez.

Depois tranquei-o de novo
Aqui no meu peito
E lá naquela jaula azul
A menina bonita não pode lhe ver
Nem o homem áspero pode lhe conhecer
Talvez o cara legal que escreve tão bem
Mas nunca o panaca com cara de cavalo
Aquele ao qual não quero bem.

Alguns já o viram por ai
Mas são bons o suficiente para manterem-se calados
Sabem que não vou deixa-lo morrer
Mas sabem que ele não deve voar por ai
Assim pra qualquer lado

E ele precisa ficar ali fechado
Por que ele preso me faz ser quem sou
E quando ele sai
Bem, diabos eu choro
Contrariando seu criador
Que por ele jamais chorou.
Baseado no poema “Bluebird” de Charles Bukowski.