terça-feira, 26 de outubro de 2010

3° Dia





Corrida pra casa.


É claro que dentro daquele inferno que éramos obrigados a tolerar haviam momentos de folga e, o maior deles era a hora do almoço.
Como éramos um bando de duros e não tínhamos grana suficiente pra comermos nos bons restaurantes da região, a maneira encontrada pra forrar o bucho era irmos até a casa de Sam que morava próximo e comermos algo.
O tempo era curto portanto Mike tratava de sentar o pé no carro pra que pudéssemos chegar rápido.
-Caralho cara!! Toma cuidado com o velho!! Porra, tu é maluco? Você ta de brincadeira??
-Vai se foder Sam!
Gostava dos caras. O clima era sempre amistoso e harmonioso.
-E esse filho da puta desse negão! Caralho Cliff! Você não prestou nem pra cair na nossa classe.
-Cara, a culpa não foi minha. Sou azarado pra caralho mesmo.
-Puta merda Mike! Cuidado! Para essa Porra!
-Va se foder sam!
Mike desligou o carro e descemos. Atravessei a avenida e entrei pela porta de metal e vidro.
A garota atendeu o balcão com um sorriso clamo. Não devia ter mais de 20. Tatuagem na lombar, coxas grossas. Comibilissima.
-Oi! Quero 4 cervejas e uma dose de rum. O Sam disse que depois trás os cascos.
-O Sam deve mais de 10 cascos aqui.
-Ele disse que tava tudo bem.
-Dessa vez passa, mas manda ele trazer os cascos.
-Mando.
-Você é amigo do Sam né?
-Sou.
-Você tem uma baita cara de bebum.
-É verdade.
-Toma teu rum.
-Obrigado.
Sai do bar e atravessei a rua quase sendo atropelado por um ônibus, abri o portão, fechei, desci as escadas e depois subi as escadas.
-Ta aqui ó! E a garota disse que tu ta devendo mais de 10 cascos.
-To devendo porra nenhuma.
-Sei lá.
Abri as cervejas nos servimos e Sam cozinhava o rango. O filho da puta era mesmo bom naquilo.
É claro que batemos boca por coisas estúpidas e também é claro que chegamos atrasados aquele dia e todos os demais, mas fazíamos das duas horas uma pequena fuga do desespero insensato que nos cercava.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

2° dia





Félix, doritos e Cabelos Vermelhos.


Me tacaram ali na sala e tratei de procurar meu lugar entre os meus semelhantes.Lá no canto mais escuro estavam eles, Poucos, execrados daquele formato de sociedade imposta. Puxei uma cadeira me sentei ao lado do Marc.
-Oh! Bom te ver cara.
-Marc! Bom te ver também seu velho sacana!
Marc era um cara bacana. Já meio coroa de óculos redondos e dono de uma pequena calva. Otrabalho maldito as dividas e um pouco de álcool fizeram dele ainda mais baratinado e iluminado que antes.
Era um bebum assim como eu, nos entendíamos bem.
-Cara! Que hora será o almoço?
- Sei lá! Só espero que seja logo, preciso de um trago pra agüentar essa merda!
Lá na frente uma coroa falava um monte de asneiras e ria como uma hiena selvagem.
-Sabe Cliff! Queria era foder essa coroa!
Marc disse e eu prestei mais atenção. Era já bem coroa mas ainda dava um bom caldo.Toda pernas e bocas e os peitos aparentemente ainda firmes. Um cabelo tingido de um fogaréu vermelho.
-Seria legal você fodê-la! Eu gostaria de ficar assistindo.
-Segurando o troço na mão?
-Não. Bebendo vinho e comendo Doritos.
-Doritos?
-Acho bacana.
-Hum...Oh! sabia que Noé, aquele do barco gostava de bebidas fortes. Andei lendo a bíblia.
-Também gosto de bebidas fortes, de barcos e de bichos. Pode ser que eu descenda dele.
-Pode ser. Ainda quero foder essa coroa.
Uma garota da sala ouviu nossa conversa e olhou. Olhos grandes, assustados, azedos e gelados em nossa direção.
Mulheres.Simplesmente não dou sorte com elas.
-Talvez eu tente foder essa coroa no final da aula. O que acha Cliff?
-Acho legal. Mas precisava mesmo é de um trago.
O céu era claro e límpido naquela manhã. Um bom amigo queria uma foda e eu uma fuga.Talvez nós dois ficássemos sem ter os desejos realizados.
-Opa! Olha o que tem na minha mochila do gato Félix!!
-Marc destampou a rolha da garrafa de plástico e me passou. Uma boa salina.
-Marc! Eu te amo!
-A gente faz o que pode.
E assim, fazendo o que era possível, tentávamos sobreviver aos segundo dos dez dias de inferno programado.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

De volta à latrina de merda flamejante.


1° dia
Afundando no balde de lixo.

Acordei cedo olhei pra janela e vi a chuva.Um cagalhão de cachorro descia rolando quente e imorredouro pela enxurrada.Bom dia! Era assim mesmo, sempre foi.
Sentei-me na beira da cama e abaixei pra amarrar meus sapatos e como de costume, quando estou nessas situações disse pra mim mesmo “Deus todo poderoso! O que mais agora?”
Sai pra rua, acendi um cigarro ignorando os prognósticos e mau tempo e me mandei.
Tomei o ônibus, desci no centro e me encontrei com os caras.Pessoas boas, incrédulos geniais ! Jockeys do inferno chicoteando cavalos de fogo!! Dois entre centenas, tinha sorte por conhecê-los.
Entramos no carro. Boa musica no alto-falante e boa conversa pra tentar rebater o que nos aguardava.
Pra variar nos atiraram no lugar mais fétido, obscuro e moribundo que era possível. O pior de tudo não era o cachorro velho e pulguento dormindo na sala, mas sim, Ter que VER todas aquelas pessoas sorrindo como hienas ensandecidas e ainda mais nauseante era ter que FALAR com a maioria da daquelas pessoas.
Pra piorar queriam que todos fizessem uma INTERAÇÃO! Jesus!! SOCORRO!! Eu só desejava ardentemente que toda aquela estupidez acabasse logo.
Eu olhava pra maioria daqueles rostos. Rostos, rostos, faces e sorrisos, a maioria não me dizia nada e muito do que me era dito não era lá muito bom.
Por fim, começaram com um blá blá blá rançoso e mole mas que 78% engoliu como se fosse chocolate.
Lá no fundo discutíamos futebol e tentávamos sobreviver.
Seriam 10 dias e eu já sentia meus pés afundando na merda quente daquele circo horrendo como areia movediça.
Uma latrina de merda flamejante me puxando pra baixo do mundo e de toda razão que poderia existir.