segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

GHOST RIDER IN THE SKY

Sentou-se à mesa e de um só gole entornou toda a bebida que desceu-lhe pela garganta como fogo liquido. Daí então, teve paz para pedir uma cerveja e saboreá-la com certo prazer.
Era uma madrugada escaldante de um interminável janeiro.
Olhou a tela da tv e ali via-se a equipe do Phoenix Suns de 92.
Acendeu um cigarro, respirou a ar quente da noite. A lua seguia alta no céu cercada por parcas nuvens alaranjadas e infernais, VERDADEIRAMENTE INFERNAIS.
Chacoalhou os bolsos e viu algumas moedas.
Pagaria o bar por hoje, o amanhã sempre uma incógnita, sempre uma luta tremenda, sempre uma dureza, sempre quebrando pedras com as mãos.
Os olhos borrados e a face cansada fitavam a tv, as cadeiras empoeiradas e as moscas que voavam pelo escuro salão.
Ele já não era metade do que fora um dia.
A música tocava num looping infinito, um eterno “repeat” que só servia pra lhe ferir ainda mais e, não duvide que não fosse possível ocorrer.
Em outro lado, numa cidade vizinha ela entrou no quarto penteou os cabelos em frente ao espelho, colocou um leve vestido vermelho e depois foi à cozinha.
Não, não havia lembrança alguma em seus olhos.
Nem em suas mãos, ou pele.
Um programa mostrava lances de esporte que ela não conhecia bem, mas versava sobre um jogador, intenso e rude, bom, porém sempre derrotado em suas disputas.
Sem interesse, mudou o canal e foi à janela tentar respirar um pouco de ar fresco, o que era impossivel sob aquele escaldante calor.
Ligou o rádio e pôs-se a dançar timidamente em seu quarto.
Seus pés quicavam o soalho com se fosse feito de aço.
Não se achava boa nisso, mas naquele momento, estava feliz sem motivo e gostava daquela música.
De um modo ou de outro a fazia feliz.
Ele seguiu bebendo e o Phoenix perdendo e a música tocando.
Sentiu vontade de largar tudo. De largar o jogo, de mandar o mundo à merda e caminhar, mas sabia estar preso àquela realidade insana e confusa que fora toda a sua existência.
Foi ao  banheiro, lavou o rosto, mas mesmo a água lhe parecia quente demais, sua camisa suada e sua expressão cadavérica em nada lhe ajudavam, não mesmo.
Sabia que o dia nasceria e ele ainda estaria ali, e em outras ocasiões também estivera assim e estaria ainda mais vezes.
Ela enfim deitou-se e dormiu um pouco.
Era confortável o toque dos lençóis naquela madrugada.
Acordou pontual, banhou-se e desceu as escadas.
Andava leve como uma pluma, flutuava em pequenas bolhas de ar.
O sol despertara mais cedo que de costume.
Ele Levantou-se.Não estava bêbado com gostaria.
Entorpecido ele tinha um chance de esquecer um  pouco.
Pagou a conta e, entrou no carro e seguiu pela estrada.
À frente o Sol o cegava mas ele seguia.
Sabia que seria assim pra sempre e já não mais era capaz de lamentar o fato.
Pelo retrovisor ela viu o semblante de um homem alguns carros atrás.
Uma imagem desesperadora e horrível pra se ver num começo de domingo.
Algo morto habitava em seus olhos cinzentos e no rosto borrado.
Sinalizou, dobrou à direta e seguiu seu dia.
Ele seguiu em frente.
Seus olhos cinzentos e sua face alquebrada contra o Sol.
Perseguindo o que nunca alcançaria.
Seu cigarro, sua bebida e sua loucura por companhia.
O rebanho estaria sempre a sua frente, sempre e ele NUNCA  seria capaz de laçar nenhuma das cabeças.
Parou num auto posto e serviu-se de mais uma cerveja.
Não era cura, mas aliviava.
Viu um garoto entrando.
Olhou-o nos olhos e soube tudo em um só instante.
Era como ele fora e dificilmente não estaria junto dele num futuro próximo perseguindo seu rebanho.
Entrou no carro e seguiu rumo ao Sol.


sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Uma canção para Don

Donald Hester estava em caco quando pegou o telefone e ligou pra Blake numa manhã de sábado quente como o inferno.
 -Blake?
 -Fala cara. Como está?
 -Não tão bem quanto deveria, mas foda-se...Têm um tempo?
 -Tenho cara.
 -Ótimo, no Mud’s.
 -No Mud´s.
 Blake era um cara velho e confuso, meio lunático e biruta, mas tinha um coração grande.
 Um perdedor nato que continuava no jogo simplesmente por falta de opção.
 Blake entrou no carro e dirigiu até o Mud´s.estacionou do jeito que ele conseguiu e entrou.
 -Blake! tava sumido meu velho, como vai?
 -Indo Janine, tava mesmo, muita correria, ando cansado à beça.
 -Nem fala, eu tô detonada.
 Don entrou, bateu os sapatos e sorriu pra Janine.
 -Oi querida! manda um duplo pra mim e um com água pro Velho aqui.
 -Meio-a-meio Blake?
 -Meio-a-meio Jan.
 -E ai vida mansa? O que manda?
 -Cara, to numa tremenda fria.
 -E quem não está mano? Acho que desde que chegamos no mundo a gente tá numa fria.
 -Mas essa é pra valer.
 Janine trouxe os copos.Beberam, brindaram e seguiram o papo.
 A manhã seguia quente, os carros passavam como peixes num oceano e ali, dentro do bar,a vida era como um aquário, por um momento parecia seguro.
 -E é isso.
 -Cara, que bad Don...olha, eu nem sei por onde começar...Eu queria ter um problema desses, seria bom, bom mesmo, mas nessa altura do jogo eu nem sonho mais com uma coisa dessas. Só sei que é uma chance em um milhão, mas é um risco desgraçado...Muita merda pode voar e merda voando é um inferno daqueles e na nossa idade e estado acho que a gente não aguenta mais. De uma forma ou de outra, você consegue resolver esse galho, tem um monte de coisa ao teu favor na parada e por incrível que possa parecer, você tá num momento confortável.
 -Olha Blake...eu realmente to rezando pra isso cara...E é bom falar contigo.
 -Valeu Don. Agradeço o apreço. e como dizem, amar é tudo aquilo que dissemos que não seria. 
Blake foi até a Jukebox e colocou uma ficha.
 A música começou a tocar suave e limpa.
 Janine trouxe mais dois copos, acendeu um cigarro e ficou ouvindo a música junto.
 Paz, sabedoria, vitória e sucesso nem sempre se alcança, mas um bom momento num bar pode te dar um folego extra pra seguir na luta. 

Mesmo sabendo que você será derrotado por pontos no final.

 Mesmo sabendo que o fim da linha é num abismo escuro e frio.

 Mesmo sabendo que o Sol nasceu pra todos mas se escondeu de você.

 Ainda da pra sorrir um pouco e respirar.