sábado, 28 de dezembro de 2013

SALUTE! (WHO CARES? MY LIFE IS OVER ANYWAY)

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Sentei-me à mesa mais escura e fodida daquele bar fétido e imundo.
Pedi um Gt e me sentei pra beberica-lo.Olhei minhas mãos. Estavam trêmulas e não era por falta de álcool, o que tornava as coisas ainda mais assustadoras.
Vi quando ele entrou. Passou pelo balcão, não sorriu pra ninguém e veio direto ao meu encontro.
-E ai Cliff? Como está cara?
-Você sabe como eu to Blake. Pergunta estúpida!
-É, foi mesmo, mas e ai acha que da pra aguentar?
-É como eu disse, você sobrevive, mas não supera. É tipo uma cicatriz funda e mórbida. Indelével.
-Imagino. Gostaria de poder fazer alguma coisa.
-Me paga um drink. Não ajuda, mas economiza.
-Esse é grilo destas questões. Nunca ninguém pode fazer nada por você nessas horas.
-É mesmo, mas de certa forma é minha culpa.Acho que os Deuses se zangaram comigo. Eu sempre avacalhei e eles me pegaram pelo rabo direitinho dessa vez. Minha alma me corrói de um lado e o coração de outro. É como uma virgem sendo currada por dois estupradores nigerianos.
-Enquanto você conseguir fazer troça da própria desgraça ainda tem uma chance.
-Chance não, mas mantém em pé. É claro, virão bons textos, mas eu odeio esses meus textos. Eles são ótimos, mas sempre vêm de algum baque. Se for por força do baque, eu vou pra academia brasileira de letras.
-Foi tão assim mesmo Cliff?
-Foi cara, foi mesmo. Era o Sol e Lua num só momento cara, mar, arco-iris, cavalo em campina, pele bronzeada em tarde de inverno.
-Todas as coisas...
-...Mais encantadoras do Mundo.
-É...
-É...
Era uma noite de tempo ameno, um vento suave soprava do leste e a bebida descia cortando a garganta como uma lâmina afiada por Hanzo.
Tinha que ser assim.
A noite foi passando e continuamos bebendo.
É claro que eu estava fugindo da realidade, mas diabos, quem não estava? Quem queria encarar a dor da perda? Quem queria ver a derrota assim, em frente aos olhos nus? Quem queria ver seus sonhos indo embora pelo ralo? Porra, acho que ninguém!
O dia nasceu e eu ainda estava lá bebendo. Eu e o Blake, Blake e eu. Inseparáveis, na derrota e na vitória. Pena que a vitória era rara, rara...
Depois fui andando até minha casa. No caminho passei por um hotel horrível, tão feio quanto á minha cara. Vi um sujeito conhecido entrando nele, Arnie, ele era uma boa pessoa e pela cara dele o mundo se fecharia sobre sua cabeça àquela hora.
Então, antes de tentar deitar tomei mais um gole.
Por mim.
Por Blake.
Por Arnie.
Por todos que viram a alma se dilacerar de forma irreparável.
Por todos que perderam algo insubstituível.
Por todos os náufragos de ambições.
Por todos os fracassados e por todas as almas que nadam pelo Styx.
                 Salute!
Título baseado na música "Give me a coma" do Chocolate Diesel



quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

ARNIE

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Arnie estava dirigindo numa noite de outubro de um dia que ele nunca se lembrará da data, mas que pra ele sempre seria como se fosse hoje, ou melhor, agora pouco.
Olhou pro banco do carona e viu um negocinho ali.
Pegou-o nas mãos, cheirou, olhou e resolveu para num bar pra examinar melhor.
Pediu um gim tônica e sentou-se numa mesa escura, lá no fundo do ambiente.
Sempre gostara da solidão, da escuridão e do isolamento.
Então olhou o embrulho e desfez os nós que o amarravam um a um.
-Puta, mas que porra!
Sempre fora um boca-suja.
Ai viu o que estava dentro daquele saquinho.
-Mas que caralho seria isso?
Era quente e macio como uma noite de sono tranquila. Tinha o cheiro da chegada da primavera, o charme das manhãs frias e claras de outono.
Tinha mais encanto que cavalos correndo numa campina, mais brilho que uma supernova e mais melodia que solo do J mascis.
Arnie simplesmente não sabia oque era aquilo.
Não sabia se o comia se guardava no bolso, ou se simplesmente saia andando com aquilo nas mãos.
Olhou no fundo do embrulho e encontrou um bilhete muito dobrado.
“Querido Arnie, isso se chama felicidade.
Creio que você não saiba exatamente o que é isso.
Bem, desse tipo eu tenho CERTEZA que você nunca soube.
Acho que você nunca soube, talvez por medo, talvez por loucura demais, sei lá
Bom de qualquer maneira ai está.
Saiba que isso acaba e quando acabar vai sobrar aquilo que você conhecesse bem
Muito bem
As paredes se fechando e o teto descendo sem sentido e cruel sobre sua cabeça velha e fodida.
Essa dose de felicidade é uma dose cavalar, pois nela concentrei TUDO que você pensou a sua vida inteira ser impossível, conceber em uma só coisa, portanto, quando acabar as paredes se fecharão mais apertadas do que nunca e o teto descera ainda mais rápido que de costume.
É claro que você não poderia ficar com essa felicidade só pra você.
Uma por que você é você e outra por que é assim que é.
Mas desejo sinceramente que você aproveite INTENSAMENTE cada momento que isso lhe trouxer e depois não se culpe nem se lamente, pois você sabia que acabaria.
Agora é com você, seu cachorro velho.
Assinado: “DEUS”
Arnie tomou um gole do Gt e depois pediu mais um.
Duplo dessa vez.
E emborcou também de um só gole e depois pegou o embrulho nas mãos e colocou-o no bolso do paletó. Aquele bolso no peito.
 E dai saiu pra rua.
Viu um cachorro vagabundo se lambendo de uma forma estranha.

E então ele sorriu.




quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Um passeio Nas Águas do Styx

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Como um corpo que cai
Inerte e sombrio
num Abismo escuro e sem pára-quedas
É você indo ao desfiladeiro agora
É o espírito se chocando contra rochas
É alma se partindo em pedaços
Que não mais se colarão
E depois o baque
Bum!
Silêncio
O som das águas é do Styx
E a dor que corre pelos ossos partidos
É lancinante e queima o resto de humanidade que restara
E dos cacos que sobraram ergue-se a figura
De carne, esparadrapo e superbonder
Examinando-se no espelho destas águas ruidosas
Que só trazem gritos de derrota
A figura vê suas mãos
Que um dia foram belas
E agora não passam de varetas murchas
E com elas ele começa a traçar a rota
De desespero e angústia que o aguarda
Não de volta à vida, pois ela não lhe é mais bem-vinda
Mas o caminho do seguimento, em busca da vaga no inferno que lhe fora negada





terça-feira, 10 de dezembro de 2013

EU CONTRA A NOITE




















Um som de harpa, um torpedo
Weidman acertando um cruzado na aranha
Cristo ligando pro pai de um celular pré-pago e com a ligação sem sinal
É um balde cheio d'água e Raymond ficando nas sombras
Sou eu contra a noite
E os joelhos se dobram
E a alma se arrasta moribunda
E a rocha fendida se quebrando em um milhão de pedaços
Cinzas
Rotos
Sangrentos
E as paredes se fechando como prensas
E as nuvens trazendo tempestade e tornado
Buster Douglas mandando o aço pra fornalha
E o descrédito te levando a loucura
Declínio e queda
E agora sou eu e o copo
Dois contra o mundo
Mas agora ele é diferente, maior e têm cores
Rosas
Azuis
E degradê do negro ao dourado
E o que disseram por propaganda enganosa fez confusão
E eu perdido dentro de meu próprio eixo
E toda a construção e entrega se desfazendo em pó
Declínio e queda
Eu contra a noite
E ela me trazendo uma dor desconhecida e brutal

E os joelhos dobrados, e a loucura feroz e a espuma do copo
Só fazem a dor te tocar com mais intimidade.