segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Previsão de chuva para o domingo que vem.

 photo cel.gif

 (Quando os celulares tocam)


Blake estava trabalhando naquela noite de sábado no Dead End’s bar e não era algo que se podia ter orgulho. Tudo bem, era melhor que a merda rançosa do trabalho público e ajudava a pagar as contas. De certo modo era engraçado. Toda a fauna de pseudo-estrelas e falidos pomposos da cidade provinciana acabavam aparecendo por lá e Blake ria com isso e o ajudava a se manter são.

Naquela noite de sábado ele estava em parceria de Carl Anderson.

Carl era um bom amigo. Um dos poucos que Blake cultivara nos anos de trabalho. Garoto jovem e esperto, leitor de Kafka e Faulkner, escrevia ótimas poesias.

-Blake, isso aqui é mesmo bizarro.Bem que você havia me dito.

-Te Falei Carl, é engraçado pacas. Esses figuras e seus deslumbres e suas estórias fodidas embaladas em papel brilhante pra disfarçar.

-Só.

A noite ia se arrastando feito merda quando chegaram Becky e seu marido.

 Becky fora uma ex-namorada de Blake, viviam aos berros e xingamentos e agora ela era casada com um músico cafona e decadente.

 Blake agora estava casado com Betty e tinha com ela três filhos, um cachorro e uma hipoteca. Viviam também aos berros e xingamentos, mas era o jeito de Blake.

 Becky passou por Blake, lhe deu um sorriso amarelo e estúpido. Encantado e alegre como sempre fora.

Carl saiu de banda pra fumar um cigarro. Sentiu o telefone vibrar em suas calças e atendeu.

 -Oi Baby. Como estão as coisas por ai?

-Tranquilas Shanon.É um troco fácil de ganhar.

-Pensou sobre o assunto Carl?

 -Pensei e...Bem, a coisa ainda é mesma Shanon.

- VOCÊ SABE QUE EU NÃO VOU VOLTAR ATRÁS.

 -E eu também não vou mudar de ideia então, temos um impasse.

-Pense melhor Carl.

-Você também Shan.

Ela desligou com aspereza e Carl seguiu fumando seu cigarro sabendo que não seria fácil mudar as coisas.

Là dentro do Bar, Becky sentou-se ao lado de Blake junto com um cara gordo e extremamente chato que a idolatrava com um carola devoto. Era confortável à Becky ter alguém assim e começaram a falar.

Falar.

 Falar.

Falar.

Falando interminavelmente sobre assuntos intermináveis.

De repente Becky virou-se pra Blake.

-Você não é mais o mesmo. Não gosta de pessoas, não gosta de ninguém e você..blá, blá, blá...

Se Blake fosse uma pedra ela falaria.

Se ela fosse uma esfinge, ainda assim ela falaria.

 Blake levantou, deu de ombros e foi pra rua fumar um cigarro.

 A noite era nebulosa e sinistra.

O telefone tocou no bolso esquerdo da calça de Blake.

-ELA TA AI NÉ?

-Betty, por favor... Não me venha com essa merda agora.

 -EU SEI QUE ELA TA AI BLAKE!! VOCÊ TA FELIZ AGORA??!!

 -Porra mulher! Eu venho aqui e esfolo meu rabo fodido por horas e você agora me vem com essa?

-VOCÊ SABE O QUE VOCÊ FEZ BLAKE! VOCÊ SABE O QUE FEZ! VOCÊ GOSTARIA QUE EU TIVESSE FEITO O MESMO?

 -Diabo mulher! Não sei... faça e ai eu descubro.

 Betty bateu o telefone e Blake voltou pra dentro do bar e seguiu trabalhando por mais uma hora e meia até pegar a grana e entrar no carro.

 -É Blake meu velho. A Shanon ta pegando no meu pé pra caramba por causa daquele lance.

-Nem me fala cara. A Betty ligou agora pouco, berrando e xingando...Elas NUNCA superam.

 -É.

Seguiram bebendo uma bud cada um até chegar em cofeville.

Carl desceu do carro, pegou as coisas no porta- malas.

-Valeu Blake, vou tentar dormir um pouco. Pelo visto hoje vai ser um dia daqueles.

 -Vou nessa também garoto. Encontrar meu infortúnio de hora marcada. Um verdadeiro voluntario à Aschwitz.

Carl subiu as escadas e deitou-se sabendo que as coisas voltariam à tona assim que acordasse.

Blake seguiu dirigindo e bebendo, sabendo que embora a primavera estivesse começando em todo o país, e o Sol começava a irradiar um dia de piscina, mas para ele, o domingo chegaria com uma chuva daquelas.




4 comentários:

  1. Respostas
    1. Sabe que eu há pensei nisso...rs!!

      Excluir
    2. Negro, muito bom mesmo, em sua veia lirica corre o melhor de um certo "Nelson Rodrigues' às avessas: Paulista, negro, observador critico-analítico do cotidiano, transformando o que parece banal em uma literatura " marginal, visceral, cronista de letras cheias e como todo ótimo cronista o é, reedita suas experiencias diárias com primazia de quem o sabe fazer...
      Parabéns Bró der!!! A lisonja que me enche o peito neste momento me transborda o ser, quiçá faremos parte de uma vanguarda, embevecida de ódio! Valeu pelo personagem!!!

      Excluir
  2. Massa demais. Uma dia comum com um toque de escrita foda. Tú é o cara brou !

    ResponderExcluir

Brothers and sisters. it's time to talk!!!