(Quando os celulares tocam)
Blake estava trabalhando naquela noite de sábado no Dead End’s bar e não era algo que se podia ter orgulho. Tudo bem, era melhor que a merda rançosa do trabalho público e ajudava a pagar as contas. De certo modo era engraçado. Toda a fauna de pseudo-estrelas e falidos pomposos da cidade provinciana acabavam aparecendo por lá e Blake ria com isso e o ajudava a se manter são.
Naquela noite de sábado ele estava em parceria de Carl Anderson.
Carl era um bom amigo. Um dos poucos que Blake cultivara nos anos de trabalho. Garoto jovem e esperto, leitor de Kafka e Faulkner, escrevia ótimas poesias.
-Blake, isso aqui é mesmo bizarro.Bem que você havia me dito.
-Te Falei Carl, é engraçado pacas. Esses figuras e seus deslumbres e suas estórias fodidas embaladas em papel brilhante pra disfarçar.
-Só.
A noite ia se arrastando feito merda quando chegaram Becky e seu marido.
Becky fora uma ex-namorada de Blake, viviam aos berros e xingamentos e agora ela era casada com um músico cafona e decadente.
Blake agora estava casado com Betty e tinha com ela três filhos, um cachorro e uma hipoteca. Viviam também aos berros e xingamentos, mas era o jeito de Blake.
Becky passou por Blake, lhe deu um sorriso amarelo e estúpido. Encantado e alegre como sempre fora.
Carl saiu de banda pra fumar um cigarro. Sentiu o telefone vibrar em suas calças e atendeu.
-Oi Baby. Como estão as coisas por ai?
-Tranquilas Shanon.É um troco fácil de ganhar.
-Pensou sobre o assunto Carl?
-Pensei e...Bem, a coisa ainda é mesma Shanon.
- VOCÊ SABE QUE EU NÃO VOU VOLTAR ATRÁS.
-E eu também não vou mudar de ideia então, temos um impasse.
-Pense melhor Carl.
-Você também Shan.
Ela desligou com aspereza e Carl seguiu fumando seu cigarro sabendo que não seria fácil mudar as coisas.
Là dentro do Bar, Becky sentou-se ao lado de Blake junto com um cara gordo e extremamente chato que a idolatrava com um carola devoto. Era confortável à Becky ter alguém assim e começaram a falar.
Falar.
Falar.
Falar.
Falando interminavelmente sobre assuntos intermináveis.
De repente Becky virou-se pra Blake.
-Você não é mais o mesmo. Não gosta de pessoas, não gosta de ninguém e você..blá, blá, blá...
Se Blake fosse uma pedra ela falaria.
Se ela fosse uma esfinge, ainda assim ela falaria.
Blake levantou, deu de ombros e foi pra rua fumar um cigarro.
A noite era nebulosa e sinistra.
O telefone tocou no bolso esquerdo da calça de Blake.
-ELA TA AI NÉ?
-Betty, por favor... Não me venha com essa merda agora.
-EU SEI QUE ELA TA AI BLAKE!! VOCÊ TA FELIZ AGORA??!!
-Porra mulher! Eu venho aqui e esfolo meu rabo fodido por horas e você agora me vem com essa?
-VOCÊ SABE O QUE VOCÊ FEZ BLAKE! VOCÊ SABE O QUE FEZ! VOCÊ GOSTARIA QUE EU TIVESSE FEITO O MESMO?
-Diabo mulher! Não sei... faça e ai eu descubro.
Betty bateu o telefone e Blake voltou pra dentro do bar e seguiu trabalhando por mais uma hora e meia até pegar a grana e entrar no carro.
-É Blake meu velho. A Shanon ta pegando no meu pé pra caramba por causa daquele lance.
-Nem me fala cara. A Betty ligou agora pouco, berrando e xingando...Elas NUNCA superam.
-É.
Seguiram bebendo uma bud cada um até chegar em cofeville.
Carl desceu do carro, pegou as coisas no porta- malas.
-Valeu Blake, vou tentar dormir um pouco. Pelo visto hoje vai ser um dia daqueles.
-Vou nessa também garoto. Encontrar meu infortúnio de hora marcada. Um verdadeiro voluntario à Aschwitz.
Carl subiu as escadas e deitou-se sabendo que as coisas voltariam à tona assim que acordasse.
Blake seguiu dirigindo e bebendo, sabendo que embora a primavera estivesse começando em todo o país, e o Sol começava a irradiar um dia de piscina, mas para ele, o domingo chegaria com uma chuva daquelas.
Só capando! rs
ResponderExcluirSabe que eu há pensei nisso...rs!!
ExcluirNegro, muito bom mesmo, em sua veia lirica corre o melhor de um certo "Nelson Rodrigues' às avessas: Paulista, negro, observador critico-analítico do cotidiano, transformando o que parece banal em uma literatura " marginal, visceral, cronista de letras cheias e como todo ótimo cronista o é, reedita suas experiencias diárias com primazia de quem o sabe fazer...
ExcluirParabéns Bró der!!! A lisonja que me enche o peito neste momento me transborda o ser, quiçá faremos parte de uma vanguarda, embevecida de ódio! Valeu pelo personagem!!!
Massa demais. Uma dia comum com um toque de escrita foda. Tú é o cara brou !
ResponderExcluir