terça-feira, 19 de julho de 2011

Pequeno Delírio Dominical.






Levantei vesti minhas calças, abaixei pra amarrar os sapatos e pensei “DEUS TODO-PODERES O QUÊ MAIS AGORA?” Sai correndo pro banheiro e vomitei.

Depois, escovei os dentes e vomitei de novo e pronto. Era isso.Sempre foi assim.

Liguei o radio e a voz de Greg Dulli me chegou aos ouvidos, mostrando que as coisas poderiam ser, ao menos, embaladas por uma boa trilha sonora.

Cruzei a avenida, peguei o ônibus e cheguei ao centro.

O dia amanhecera claro e ameno, mas isso, sinceramente, não me valia de porra nenhuma.

Entrei, sentei no canto mais escuro do refeitório e mastiguei um pão que mais parecia um pneu de trator.

Sai, acendi um cigarro e Molly veio falar comigo.

-E ai Cliff. Ta preparado.

-To nada, não me liguei nesse lance, mas vou até lá pra ver no que dá.

-O Sam ta só o bagaço. Também ta desanimado com isso.

-É...Pra gente não é fácil. Bom, eu vou tomar alguma coisa antes pra acalmar os nervos.

-Não vá chamar o Sam!

-Não vou, fica tranqüila.

-Sabe, você e o Clyde são caras legais mas...

-Não somos boas companhia.

-É quase isso.

-Você ta certa mulher.

-Boa sorte Cliff.

-Vou precisar garota.

Molly era uma boa mulher e cuidava bem de Sam. Ele tinha sorte por isso.

Precisava matar um pouco de tempo e fiz a ÚNICA coisa com sentido.

Fui até o bar mais próximo, e enquanto Dereck Milss tomava uma vitamina entornei dois scoths com água.

-Caramba Cliff! Logo cedo?

-Pra mim é tarde, to virado, e no mais é bom pra acalmar os nervos.

-Pode ser, mas não é a minha. Vem que eu te dou uma carona.

-Valeu cara.

Rumamos seguindo o Sol e chegamos ao tal local.

Um monte de pessoas, rostos e mais rostos.A maioria me causava náuseas.

Subi a rampa e bati um papo rápido com Mike e Roger.

Ambos pareciam calmos e lívidos. Eram boas almas. Tinham alguma chance.

Depois foi descer as escadas e entrar em fila.

Neste trajeto, cruzei com uma garota que conversei apenas uma vez na porra da vida e foi o suficiente pra criar ódio mutuo.

Mulheres. Simplesmente não dou sorte com elas.

Encontrei meu lugar junto à cadeira com meu nome e sentei.

Comecei como de costume e a velha sensação de confusão mental, desperdiço de tempo e alma me consumiu.

De certa foram não fazia muito sentido estar ali. Talvez se tivesse ficado em casa seria melhor ou, se tivesse parado no puteiro da esquina e tivesse torrado alguns nickeys dando lambadas numa loura oxigenada fosse melhor, mas aquilo valia uma melhora de quase 700 pratas nos ganhos e isso era um bom motivo pra estar ali.

Senti minha vida pendurada num gancho, como sempre esteve. Minha alma a perigo. Com a grana viria o convívio com mais gente que me detestava e que eu execrava feito merda.

Pensei nisso e me senti melhor e deixei que as vagas lembranças me guiassem pelo papel.

Com da primeira vez, não tive sorte, mas fui em frente assim mesmo.

No fim, escrevi um texto que considerei bom. Muito longe do que eu gostaria, mas era o Maximo que se podia fazer ali.

Caminhei pela alameda e segui até o ponto. O sol batia forte e minha garganta estava seca feito areia.

Cheguei no ponto e encontrei Sam.

-E ai meu velho! Com foi?

-A mesma merda da outra vez Cliff, mas que vá tudo a merda! Ta um calor do inferno.

-Isso pede uma gelada.

-É claro.

Desembarcamos no primeiro bar descente que encontramos aberto no domingo e brindamos a cerveja que era aberta por uma garçonete de rabo grande.

-Bom, é isso e isso Cliff.

-Cara, sinceramente não ligo pro que vai dar...Sabe não é como ter uma perna amputada se perder essa...Da primeira vez doeu, mas agora não faz mais tanta falta.

-Tem gente que se não conseguir vai acabar arrancando os braços.

-Sei disso e é foda.

A garçonete voltou trazendo um bom par de seios pra se olhar naquela manhã.

É claro que era tudo loucura, é claro que sabia que era um peixe-piolho na carcaça da humanidade, mas sabíamos nosso lugar no mundo e isso era uma dádiva dos deuses, é claro que muitas pessoas só veriam o que gostariam de ver e espinafrar e falar sobre nossas cabeças e é claro que estaríamos ali, dando um eterno FODA-SE pra toda aquela baboseira.

Sorrimos, praguejamos, e vivemos aquele momento de homens livres numa manhã com o Sol sobre nossas cabeças sem julgar erros, acertos ou nada.

Coisas assim são pra viver, momentos assim, são pra curtir e se você encontrar 10 bons parceiros de copo em sua vida, se dê por satisfeito.

Continuei ali, com meu cigarro pendurado na boca, os olhos reduzidos a fendas, emoldurados por óculos escuros cafonas, mas que me faziam bem.

-Hey Sam! Você viu que rabo dessa garçonete?

-Porra! Será que não da pra ver nada alem disso?

-Tenho medo. O resto geralmente é problema.

Sorri pra garçonete na hora de pagar a conta e ela sorriu de volta.

O que, no fim das contas, não era nada mal.



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Brothers and sisters. it's time to talk!!!