quinta-feira, 14 de junho de 2012

Quinta-Feira

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 Blake sentou-se na sala, ligou o radio, acendeu um cigarro, colocou uma musica pra tocar e, enquanto se esforçava pra resolver alguns afazeres domésticos cantarolou a musica aparentando até certa alegria.
 Na verdade era mais CALMA que qualquer outra coisa.
 Acabou o que tinha pra fazer e encontrou uma caixa de fotos.
 Ele 15 anos atrás empunhando sua guitarra com uma metralhadora.
Os olhos detinham uma chama viva e feroz, um animal pronto a dar o bote.
VIVO.
Depois, viu-se com os bebês, suas alegrias. Ele era mais magro, não tinha tantos cabelos brancos, mas tinha mais barriga que atualmente e não sabia certos macetes, embora ainda tivesse muitos sonhos, que se desfariam com as areias do tempo, mas até então ele não sabia.
 ELE SIMPLESMENTE NÃO SABIA.
Então, a musica chegou ao seu ápice e ele entendeu com a certeza fria de um condenado à forca tudo o que era aquilo.
RESIGNAÇÂO.
Era tudo o que cabia pro momento.
Daí, ele trocou os garotos, deu um beijo em cada e saiu pra rua pigarreando e tossindo e sentindo o frio de maio tocando-lhe os ossos como dedos finos da morte. A rua mostrava o que era o mundo sem nenhuma maquiagem e ele gostava, ou se acostumara DEMAIS à isso que era assim que se sentia confortável. Depois, foi o ônibus, a luta na madrugada e a dor de dente.
A manhã chegou e a sala parecia ainda maior.
 Um cânion havia sido criado e talvez nunca mais pudesse ser cruzado.Blake lembrou da infância e do cânion.
 Um cânion, cruzado apenas por cordas quando necessário transporte de suprimentos ou informações. Cordas de carne e sangue
 TALVEZ, FOSSE SEMPRE ASSIM.
 Ela sentou em frente ao computador e o mundo ainda parecia bom.
 Ali, dentro de uma câmara hermética, não havia crianças, nem aquele cara rude
Era bem mais fácil viver assim.



2 comentários:

  1. E essa pseudo-percepção desse imenso cânion aberto talvez sempre estivera lá, porém embriagados de um torpor ou quiçá ensandecidos por devaneios não reparemos mas sempre estivera lá, ao cabo de que nos primeiros anos ao menor sinal de ruptura um segura o prego enquanto o outro o martela, e quando temos o martelo em mãos mas o prego está caído a sobriedade nos mostra o que não queríamos enxergar...

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  2. Assim como me é forçada essa sobriedade de minha meia idade

    Resta esta fragmentação da minha infância;onde

    O cheiro e as cores na memória

    Me levam a crer que a sofreguidão

    Inerente a adolescência, volta invertida

    Quando cruzamos metade da nossa reta...

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Brothers and sisters. it's time to talk!!!