quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

ARNIE

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Arnie estava dirigindo numa noite de outubro de um dia que ele nunca se lembrará da data, mas que pra ele sempre seria como se fosse hoje, ou melhor, agora pouco.
Olhou pro banco do carona e viu um negocinho ali.
Pegou-o nas mãos, cheirou, olhou e resolveu para num bar pra examinar melhor.
Pediu um gim tônica e sentou-se numa mesa escura, lá no fundo do ambiente.
Sempre gostara da solidão, da escuridão e do isolamento.
Então olhou o embrulho e desfez os nós que o amarravam um a um.
-Puta, mas que porra!
Sempre fora um boca-suja.
Ai viu o que estava dentro daquele saquinho.
-Mas que caralho seria isso?
Era quente e macio como uma noite de sono tranquila. Tinha o cheiro da chegada da primavera, o charme das manhãs frias e claras de outono.
Tinha mais encanto que cavalos correndo numa campina, mais brilho que uma supernova e mais melodia que solo do J mascis.
Arnie simplesmente não sabia oque era aquilo.
Não sabia se o comia se guardava no bolso, ou se simplesmente saia andando com aquilo nas mãos.
Olhou no fundo do embrulho e encontrou um bilhete muito dobrado.
“Querido Arnie, isso se chama felicidade.
Creio que você não saiba exatamente o que é isso.
Bem, desse tipo eu tenho CERTEZA que você nunca soube.
Acho que você nunca soube, talvez por medo, talvez por loucura demais, sei lá
Bom de qualquer maneira ai está.
Saiba que isso acaba e quando acabar vai sobrar aquilo que você conhecesse bem
Muito bem
As paredes se fechando e o teto descendo sem sentido e cruel sobre sua cabeça velha e fodida.
Essa dose de felicidade é uma dose cavalar, pois nela concentrei TUDO que você pensou a sua vida inteira ser impossível, conceber em uma só coisa, portanto, quando acabar as paredes se fecharão mais apertadas do que nunca e o teto descera ainda mais rápido que de costume.
É claro que você não poderia ficar com essa felicidade só pra você.
Uma por que você é você e outra por que é assim que é.
Mas desejo sinceramente que você aproveite INTENSAMENTE cada momento que isso lhe trouxer e depois não se culpe nem se lamente, pois você sabia que acabaria.
Agora é com você, seu cachorro velho.
Assinado: “DEUS”
Arnie tomou um gole do Gt e depois pediu mais um.
Duplo dessa vez.
E emborcou também de um só gole e depois pegou o embrulho nas mãos e colocou-o no bolso do paletó. Aquele bolso no peito.
 E dai saiu pra rua.
Viu um cachorro vagabundo se lambendo de uma forma estranha.

E então ele sorriu.




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Brothers and sisters. it's time to talk!!!