quinta-feira, 2 de junho de 2011

Nelore velho no abatedouro




Blake entrou pela porta de ferro, subiu a longa escada, cruzou a catraca, foi ao fundo do salão, pendurou o saco tão surrado quanto a sua própria cara carcomida pelos anos de trabalho noturno, loucura e alucinação na girafa de madeira e foi pro seu canto.

-E ai Dereck!

-E ai Blake.

Derek era o cara que chefiava aquele lugar. Era um cara bacana.

O lugar estava cheio de jovens. Blake era o cara mais velho do recinto, porém era durão. 105 kg e forte como um nelore.

Blake foi até o canto vazio e começou a se excercitar tentando, pelo menos naquelas duas horas, esquecer de tudo.

Era uma coisa engraçada. O mesmo cara que levantava grandes quantias de peso numa boa, de pescoço taurino e expressão rude, era na verdade a porra de um beberrão indizivel.

De repente Derek chega perto e diz.

-Ei Blake! Vai ter uma boa aula agora na sala ao lado. Por que você não vai até lá.

-Pra mim não rola cara. Ta só a gurizada, vou passar o maior carão.

-Vai nada, tu é um cara durão.

Blake já tinha desistido da idéia quando uma jovem passou por ele.

Devia medir um metro e meio mas que METRO E MEIO!!!

Diabos! Era uma maquina de deixar homem louco!

Seios duros como rocha, um rabo empinado e firme que fazia retaguarda pra uma xota grande e saltada, emoldurada por um colant azul.

-E ai grandão? Vai encarar a aula?

A voz grasnava feito um pato, mas...FODA-SE ela não era uma cantora dos Supremes!

-Vou! Pega leve comigo hein! Sou velho demais pra essas coisas.

Entraram umas 10 pessoas na sala, todos jovens e vistosos, exceto ele. Juventude, força e vitalidade. Sonhos que se desfarão ante as marretadas do matadouro da existência.

Sentiu certa inveja deles.

Ela mandou que todos pegassem enormes bolas de plastico.

Blake pegou a sua e estirou-se num colchonete.

Daí tudo começou.

Ele sempre fora um desastrado completo.Quase caiu umas duas ou três vezes, parte da falta de equilibrio gerada pela idade e pelo alcool.

Resistiu até onde pode e depois cedeu.

Levantou-se bravamente e conseguiu chegar à segunda etapa.

Quando pensava em desistir percebeu que ainda valia a pena.

A tal instrutora fez um movinto estranho que mais lembrava a uma foda. Então uma lapa de seio começou a correr marotamente pra fora do colant.

Seria prudente desviar o olhar e esquecer mas... ORA! QUE VÁ TUDO A MERDA! Pensou e ficou ali fingindo ser um alteta e olhando aqueles peitos e rezando, olhando uma pequena auréola que teimava em escapar enquanto fingia ser um pessoa decente e calma e rezando, sendo premiado com aquela visão de um bico na manhã fria de junho enquanto fingia que era tudo uma puta de uma casualidade e rezando.

Rezando pra que aquela sorte durasse um pouco mais.

Rezando pra que toda a merda do mundo escoasse por debaixo de seus pés rumo ao esgoto dos infernos.

Rezando pra que essas palavras no papel fizessem algum sentido...

Por fim, tudo acabou.

A garota se dirigiu até ele.

-E ai? Como foi?

-Bom, vou precisar de uns 3 dias de bebedeira pra me recuperar disso aqui.

-Você tem problemas com bebida?

-Não, tenho probelmas é com um monte de coisas, a bebida ajuda a destilar.

-Semana que vem tem mais.

-Talvez eu venha.

-Até.

-Até.

Blake voltou pro salão, ergueu seus pesos homéricos e depois saiu pro Sol gelado de inverno sem garota linda, sem sorte, sem bico de peito.

Apenas uma garrafa, um cigarro e algumas linhas pra por no papel.

Rezando pra que a fraude que sempre foi, nunca se dissipasse em sonhos de grandeza.

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Brothers and sisters. it's time to talk!!!