segunda-feira, 15 de novembro de 2010

10° Dia


Último Round

Chegamos e olhamos as escadas. Uma sensação de alivio e alegria quase me fez sorrir. Enfim sairia daquela latrina de merda flamejante e isso era bom. Subi o morrinho, acendi um cigarro e fiquei olhando o povo lá embaixo. Todos pareciam EXTREMAMENTE felizes, todos conversavam entre eles assuntos que eu não queria conversar. Quase tive uma impressão favorável das massas. Eram fodidos e tinham uma existência deplorável mas conseguiam sorrir com qualquer estupidez. Eu não conseguia ser assim, nunca consegui e agradecia a Deus por isso.

Entrei na sala, peguei os papéis, rabisquei as respostas e fui embora. Era simples assim. Entrei no banheiro, mijei, desci, acendi um cigarro e fiquei esperando por Mike e Sam pra fugirmos do inferno.

Aos poucos as pessoas iam surgindo. Rostos, rostos e mais rostos a maioria não me dizia nada.

-E ai Mike? Cadê o Sam?

-Ué? Ele ainda não saiu?

-Nada.

-Esse filho da puta sempre embaça.

Em pouco tempo o pátio estava cheio. Ouvi uma voz de mulher atrás de mim.

-Esses caras são uns boçais. Eles nem deviam estar aqui.

Percebei que se referiam a nós. Celebridade é pra quem pode.

-Caralho! Vocês já tão ai?

-A pelo menos meia hora Sam. Vam’bora!

Mike ligou o carro e nos mandamos. O Sol brilhava tranqüilo e quando eu quase ia ficando feliz a bomba veio.

-Vamos ter que voltar a tarde.

-Por que Sam?

-Vão entregar uns materiais. Vamos ter que encarar essa merda.

Mike colocou uma quinta e disse.

-Só espero que seja rápido.

Sam cozinhou, comemos, bebemos e voltamos.

Ai o caldo desandou.

O Salão já estava lotado quando entramos e ainda era cedo. Eu não sei por que que aquele povo gostava tanto de se aglomerar. Procuramos um lugar e isso estava difícil.

Finalmente nos sentamos e então ouvi atrás de mim uma voz de mulher.

-Pô! Vai ficar com esse cabeção ai na frente.

Sem olhar pra trás, com a mesma nobreza de um guarda da rainha respondi.

-SE QUISER POSSO COLOCAR O CABEÇÃO DO MEU PAU AI NA FRENTE!

Não ouvi mais nada vindo de trás de mim.

Por fim permitiram que levantássemos.

O Povo falava animado sobre a estúpida confraternização.

Uma garota veio em minha direção.

-Cliff? Você vai ao churrasco.

-É claro que não. Eu sou seleto pra bebida.

-Graças a Deus.

Gostei da sinceridade.

Meia hora depois, enquanto todo mundo se espremia nalgum salão imundo, comendo carne dura e sorrindo bestamente, eu, Mike, Sam, Roger e Anth sentávamos num bar do centro.

Bastardos inglórios. Exclusos do resto do mundo, cavalos selvagens, loucos, poetas, pais, avôs e amantes, mas acima de tudo HOMENS de alma que mesmo corroída pelas mazelas do dia-a- dia ainda conseguiam resistir a mais um round.

O Sol se punha e seguia pra casa tranqüilo, esperando que o dia de amanhã fosse melhor que o de hoje.

FIM.






¹Agradecimentos especiais a todos que me inspiraram dentro desta latrina de merda flamejante

² Essa é uma obra de FICÇÃO qualquer semelhança com pessoas ou fatos é mera coincidência

³ As vezes eu minto um pouco

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Brothers and sisters. it's time to talk!!!